06 outubro 2015

Da gestão da consciência

Escrevi o texto abaixo há sete anos (e daí a estranheza do hoje é Domingo, ou do empate de Portugal com a Suécia..). Lembro-me por que motivo o escrevi, as circunstâncias do meu pensamento que mo levaram a fazê-lo, o meu interlocutor daquele sábado. Nem todos os textos que repesco são datados, como se fossem uma peça de mobiliário de estilo definido no tempo. Este está datado apenas pelo facto de ter sido escrito numa época específica, em que eu era o que era e a minha circunstância. Mas, acredito, continua válido, pese o estilo e um ou outro raciocínio mais ultrapassado.

JdB

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Hoje é Domingo, e eu não esqueço a minha condição de Católico…

Portugal empatava ontem a zero com a Suécia (presumo que fosse o segundo objectivo, nesta hierarquização de propósitos) e eu encetava uma conversa interessante com quem me fazia companhia numa noite de sábado outonal – a gestão da nossa consciência. O título da cavaqueira é meu, mas parece-me que resume, pouco mais ou menos, o que foram aquelas horas de um debate pacífico, sossegado - e esclarecedor, tanto quanto era possível.

Parece-me que há alguma tendência nos dias de hoje (e estou a fazer uma avaliação por baixo) para um excesso de individualismo. Com os meus pedidos de desculpa prévios pelos que se sentirem injustamente atingidos, estou convicto de que a generalidade das recomendações para a recuperação de infelicidades, neurastenias, depressões, tristezas profundas ou nostalgias passam por atitudes individuais de demanda da satisfação: tem de se preocupar consigoa sua alegria é que importa verdadeiramenteolhe primeiro para si próprio. Se tudo isto funciona em determinados casos – não sou fundamentalista ao ponto de dizer que não -, noutros há em que perverte a escala de valores em que alguns de nós se revêem, e abre portas para o primeiro eu, depois os outros, esquecendo que a felicidade está, tantas vezes, no dar-se.

Quando a nossas opções conflituam com o conforto de terceiros as decisões e os impactos são mais claros, ainda que não mais fáceis. A dificuldade residirá, provavelmente quando as nossas escolhas não prejudicam ninguém, não entram em rota de colisão com quem quer que seja, não se revestem de uma roupagem que diminui a vida de quem nos rodeia. Em todas as alturas poderemos pensar que a escolha de um certo caminho vai prejudicar os interesses de A ou B, ou é intrinsecamente errada à luz de uma cultura que é transversal a quase todos, de um quadro legal em que vivemos. Talvez sigamos essa via, mas no outro prato da balança está um próximo, um outro que poderá sofrer com isso.

Mas, e com este raciocínio termino, quando as escolhas conflituam apenas com os nossos próprios princípios, quando estamos certos de que ninguém sairá prejudicado (tantas e tantas vezes antes pelo contrário), diminuído ou apoucado – a não ser a nossa consciência ou aquilo em que acreditamos – como fazemos esta gestão? Como fazemos uma escolha entre um quadro de valores de que somos herdeiros (e no qual de alguma forma acreditamos) e uma opção que não afecta directa nem indirectamente terceiros? Como vivemos com o escrúpulo e com o merecimento, com a tranquilidade do corpo e o incómodo do espírito, com o sorriso na boca e a ferida na alma?

O facto de termos um blogue dá-nos este direito invejável: publicar o que nos apetece – dentro dos limites da civilização e do respeito – sem termos de nos preocupar sobre se as nossas palavras são precisas, politicamente correctas, cientificamente provadas. Talvez termine o post de hoje em vírgula. O tempo de que disponho não é muito – e não fará mal se cada um dos leitores resistentes interpretar este texto à luz de uma realidade própria.

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