16 dezembro 2015

Do Natal

Georges de la Tour, ca 1644


Já uma vez aqui escrevi sobre o tema e a passagem por um blogue que falava disto suscitou-me a revisita.

Não sou o único a queixar-me da confusão do Natal. Há uma ideia generalizada, na minha geração, que o Natal é cansativo, perdeu o espírito, é um calcorrear ininterrupto de quilómetros e de auto-estradas, uma confusão logística e organizacional porque há as famílias novas, as famílias reconstruídas, as famílias dos cônjuges, a gestão de onde se almoça, onde se janta, a que missa já não há tempo para ir. No limite, subsiste em cada um destes queixosos uma frase dramática: quem me dera passar directamente de 24 para 26. A acrescer a esta angústia mais ou menos injustificada, há as saudades de quem partiu, as agruras da vida profissional, os abandonos, os projectos interrompidos ou perdidos, a adaptação difícil a novas realidades, a pouca flexibilidade que provoca úlceras nervosas.

Nas mentes de muitos haverá uma estranha (digo eu, contra mim próprio...) nostalgia de outros natais. Tenho quase 58 anos. O que mudou na época ao longo destes últimos 50 anos? Perdeu-se uma ideia de despojamento? O Natal de hoje em dia é mais consumista do que era quando eu tinha oito anos e no qual já se trocavam presentes? O espírito natalício perdeu-se? Se sim, porquê e quando? O que havia há 50 anos que não há agora? Ou o que há agora que torna esta festa tão complicada?

Sei bem o que mudou no meu Natal de há 14 anos para cá. Mas também sei que nem todas as perdas, as mudanças mais ou menos radicais, as adaptações mais ou menos complicadas, justificam a ideia de querer saltar uma época. Há-de haver mais qualquer coisa. Talvez a solução não esteja tanto no despojamento, mas na simplicidade. Mas não tenho a certeza de nada, até porque preciso de perceber a diferença entre ambas.

JdB     

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