22 fevereiro 2016

Vai um gin do Peter’s?

Aqui vai um mini-noticiário para estimular iniciativas, que são urgentes. A criatividade ajudará cada um a descobrir o seu espaço de intervenção possível:
Na Europa, entranha-se o medo pela avalanche de incertezas e até ameaças que assolam o continente, a crescer descontroladamente e a adensar-se numa teia caótica, à beira da sobrecarga. Uma hora de lusco-fusco, adivinhando-se turbulência e empobrecimento.  
Mas há bem pior: noutras partes do planeta, as nossas incertezas, os nossos medos são um luxo. Entre o Médio Oriente e África, a morte alastra-se com requintes de crueldade. Os sons, os cheiros, as imagens, tudo vem contaminado por um rastro de destruição. Seguem-se-lhe as pilhagens, a fome, os raptos e a escravidão dos pobres sobreviventes, num ciclo demasiado familiar para os sírios e os povos limítrofes, para o Ruanda, o Iémen, o Burundi, o Quénia; mesmo no novo mundo, a situação é crítica na Venezuela, na Bolívia, em províncias extensas do México, etc.
O sofrimento da Pietá replicado, no séc.XXI, com crianças!
Na misteriosa promessa de Cristo: «Felizes os que choram, porque serão consolados

É sempre dantesca a experiência de guerra e na Síria que já se arrasta há 5 anos, com ingredientes sádicos. Há quem considere aquela alegada guerra civil como sendo a Terceira Guerra Mundial, por enquanto delimitada ao território sírio e a mais alguns países do Médio Oriente e de África. Os combates mais encarniçados decorrem nas cidades, atingindo os civis desprotegidos e inocentes. Metrópoles antes coloridas e prósperas estão a ser selvaticamente reduzidas a amontoados de pó de cimento intoxicante e cadáveres calcinados. Ao zumbido infernal das balas e das bombas segue-se um silêncio sepulcral, apenas entrecortado pelos gemidos dos moribundos e dos órfãos. À devastação humana soma-se a erradicação das raízes históricas de civilizações milenares, cometendo-se o duplo crime de tentar apagar a sua memória da face da terra.
Gandhi: «A não-violência não existe se apenas amamos aqueles que nos amam. Só há não-violência quando amamos aqueles que nos odeiam. Sei como é difícil assumir essa grande lei do amor. Mas todas as coisas grandes e boas não são difíceis de realizar? (…)
Creio que a não-violência é infinitamente superior à violência,
o perdão é mais nobre que a punição. O perdão enobrece um soldado

Sim, estes tempos pedem-nos mais abertura e imaginação para desencantar soluções à altura das dificuldades incríveis dos nossos concidadãos, sobretudo dos mais necessitados. Muitos universitários portugueses (conheço vários) têm feito voluntariado em ilhas gregas para ajudar no resgaste aos refugiados da guerra e da miséria. Um grupo de casais amigos fretou carrinhas e fez-se à estrada para ir recolher refugiados ao ponto de desembarque, nas margens europeus do Mediterrâneo, e os convidar a recomeçarem vida neste recanto solarengo da Europa. 
Gandhi: «Uma civilização é julgada pelo tratamento que dispensa às minorias. (…) Acredito na essencial unidade do homem, e portanto na unidade de todo o que vive. Desse modo, se um homem progredir espiritualmente, o mundo inteiro progride com ele, e se um homem cai, o mundo inteiro cai em igual medida

Em 1985, Maria Helena Vieira da Silva pintou uma tela profética intitulada «Caminhos da Paz» (no original: «Chemins de la paix», óleo s/ tela 73 x 100 cm), relevando-os difíceis, misteriosos, mas com possibilidade de intercepção positiva, no horizonte mais profundo. Talvez longínquo. Muito eloquente o título, aberto a vários trilhos mas com destino a uma Paz única, universal –  aquela que faz ressoar ecos inconfundíveis na alma humana:

Gandhi: «Deus responde à prece à sua própria maneira, não à nossa. (…)
Orar não é pedir. Orar é a respiração da alma.»

Do Vaticano, o Papa tem convidado todos os homens de boa vontade a lutar pela Paz com as armas da Paz, que são a Justiça, a Verdade e o Amor. Instiga-nos também ao perdão e à entreajuda. Aos crentes pede ainda que rezem. Que rezem com maior entrega e Esperança, confiando que deste mal horrendo algum bem poderá irromper (só aparentemente impossível), ainda que não vislumbremos desfechos simples, menos ainda rápidos. Felizmente que a realidade não precisa da nossa imaginação para chegar mais longe, ainda que goste de contar com o nosso contributo simbólico.
Gandhi: «Quem venceu o medo da morte venceu todos os outros medos
Imagem de mártires anónimos antes de serem fuzilados pelos fanáticos do Daesh;
o filme do massacre só circulou na net durante um par de dias.

Gandhi: «A única revolução possível é a de dentro de nós
Imagem de Narciso Contrera /Associated Press. 

Mensagens claras podem ajudar a inspirar o nosso esforço, seja na oração, seja por gestos concretos de solidariedade, sendo tudo preciso e urgentíssimo:   

«Queria fazer-me intérprete do grito que se eleva, com crescente angústia, em todos os cantos da terra, em todos os povos, em cada coração, na única grande família que é a humanidade: o grito da paz! É um grito que diz com força: queremos um mundo de paz, queremos ser homens e mulheres de paz, queremos que nesta nossa sociedade, dilacerada por divisões e conflitos, possa irromper a paz! Nunca mais a guerra! Nunca mais a guerra! A paz é um dom demasiado precioso, que deve ser promovido e tutelado (…)
Quando o homem pensa apenas em si próprio, nos próprios interesses e se põe no centro, quando se deixa fascinar pelos ídolos do domínio e do poder, quando se coloca no lugar de Deus, então rompe todas as relações, destrói tudo, e abre a porta à violência, à indiferença ao conflito. (…)
Aperfeiçoámos as nossas armas, a nossa consciência adormeceu, tornámos mais subtis as nossas razões para nos justificarmos. Como se fosse uma coisa normal, continuamos a semear destruição, dor, morte. A violência, a guerra só trazem morte, falam da morte. A violência e a guerra têm a linguagem da morte. (…) Na verdade, gostaria que cada um de nós, desde o mais pequeno ao maior, até aqueles que são chamados a governar as nações, respondessem: Sim, queremos (a Paz). (…)  É possível percorrer outro caminho? Podemos sair desta espiral de dor e morte? Podemos aprender novamente a caminhar e a percorrer os caminhos da paz? (...) Sim, é possível para todos! (…)
Que cada um se anime a olhar para o interior profundo da própria consciência e escute aquela palavra que diz: sai dos teus interesses que atrofiam o coração, supera a indiferença para com o outro que torna o coração insensível, vence as tuas razões de morte e abre-te ao diálogo, à reconciliação. (…)
Olha para a dor do teu irmão... penso nas crianças... e não acrescentes mais dor, fecha a tua mão, reconstrói a harmonia que se rompeu; faz isto não com o confronto, mas com o encontro. Termine o rumor das armas! A guerra marca sempre o fracasso da paz, é sempre uma derrota da humanidade. (…)
A paz só se afirma com a paz. Perdão, diálogo, reconciliação são as palavras de paz: na amada nação síria, no Médio Oriente, em todo o mundo! Rezemos pela reconciliação e pela paz, trabalhemos pela reconciliação e pela paz (…)
                                                                                                                              Papa Francisco – 01-09-2013
«Oração pela paz
 (…)
Senhor da paz e da vida,
Pai de todos,
Tu tens projetos de paz e não de aflição,
condenas as guerras
e abates o orgulho dos violentos. (…)
Escuta o grito unânime dos teus filhos,
a súplica cheia de tristeza de toda a humanidade;
jamais a guerra, espiral de luto e de violência;
ameaça para as tuas criaturas
no céu, na terra e no mar (…)
Suplicamos ainda:
fala ao coração dos responsáveis dos destinos dos povos,
cessa a lógica das represálias e da vingança,
sugere com o teu Espírito novas soluções,
gestos generosos e respeitosos,
espaços de diálogo e de paciência.
Dá ao nosso tempo dias de paz.
Jamais a guerra
                                                                                                                                                                  Papa João Paulo II


Vale a pena munirmo-nos de todos os meios ao nosso alcance para não perdermos este combate em favor da Paz. Nem nós nem as gerações futuras merecem derrotas por comodismo ou cobardia ou mera falta de comparência! Seria bom dispormo-nos, hoje, a atender ao grito de socorro dos milhões de seres humanos afectados pela guerra. Até coincide com o período quaresmal, para os cristãos, recomendando-se maior atenção aos outros. Já é um avanço ainda não estarmos na linha de frente da luta armada. Convém aproveitarmos bem o tempo que nos resta, porque o futuro decide-se agora e pode não haver uma segunda oportunidade.

Maria Zarco
(a  preparar o próximo gin tónico, para daqui a 2 semanas)


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