28 abril 2016

Músicas dos dias que correm



Devido ao adiantado da hora não tive oportunidade de ouvir por inteiro este vídeo oficial de Terra, o álbum de estreia de Marta Pereira da Costa, uma das únicas (ou a única?) mulher portuguesa a tocar guitarra portuguesa.

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O raciocínio seguinte não se aplica a este disco, que não conheço. Não sei se é um disco de fado, ou se é um disco onde também se toca fado. Mas, como já qui o escrevi uma vez, o que é fado hoje em dia? A pergunta pode replicar-se no sentido do meu post de ontem: o que é Veneza? O que é Roma?

Num raciocínio muito radical, talvez o fado puro já não exista, a não ser tocado amadoristicamente nalgumas casas de fado. Perdeu-se a proximidade - talvez mesmo alguma pureza - com o advento da técnica, dos grandes recintos, da necessidade de ganhar novos públicos. Por outro lado, talvez Veneza pura já não exista. Pouco se ouve o italiano, antes uma babel de línguas ávidas de conhecer, de ver, de fotografar para mostrar aos amigos e colegas de trabalho. Talvez as cidades de hoje sejam uma construção arquitectónica, não uma construção sociológica.

Entre ser-se imobilista ou defender-se a pureza das coisas há um fio de cabelo. Não sei onde é a fronteira. O que sei é que se discute a redução do turismo apesar das vantagens para o PIB; o que sei é que se discute (ou eu discuto, atirado a ninharias que não interessam) se o que hoje se chama fado ainda é fado. 

Para já fiquemos com Marta Pereira da Costa, que eu tive o gosto de ouvir ao vivo no Estoril. Como diria Mark Twain - e podia ser um bom slogan para o disco - comprem Terra; já não se fabrica.

JdB

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