Sobre alguém que nos é conhecido se disse: foi inteligente nas escolhas que fez. Pensei na frase e na possibilidade do raciocínio se poder aplicar a mim. Para o efeito, o adjectivo inteligente é irrelevante - a frase poderia incluir burro que eu me debruçaria sobre ela na mesma. O que me interessava era meditar sobre o tema as minhas escolhas.
Definamos três colunas principais sobre as quais assenta uma vida corriqueira: as relações conjugais, as relações sociais e as relações profissionais. Portanto, cônjuges, amigos, emprego. Há mais colunas? Sim, seguramente, mas, olhando para dentro de mim, são estas as colunas que me suportaram e / ou que me formaram enquanto pessoa. Podia falar na fé, na espiritualidade, mas não se enquadra naquilo que são opções que podem fazer-se. Olho então para as três colunas e o que vejo? Vejo que não fiz escolhas, o destino (ou Deus, já agora) escolheu-me tudo.
Uma relação afectiva, que pode determinar uma vida inteira ou um pedaço importante de vida, pode estar dependente de um olhar dirigido ao acaso num instante específico numa sala cheia de gente; pode depender de um convite para jantar onde está alguém, ou de um amigo que nos fala de alguém. Uma vida profissional pode começar numa centena de curriculuns que se enviam com a esperança alimentada de uma mão pouco cheia de respostas. Por último, um amigo pode surgir da improbabilidade de um encontro, de um sofá partilhado num evento social ou da curiosidade interessada que nos toca e nos abre à revelação.
Não escolhi quem fez parte da minha vida sentimental: alimentei, com tudo o que sou e sei, um acaso encantador e fortuito, nada dependente de uma escolha racional. Não escolhi os meus amigos: acolhi os que se aproximaram, manifestei gosto em eu próprio ser acolhido; os três ou quatro mais importantes não são fruto de escolhas deliberadas. Por último, não elegi deliberadamente a multinacional onde trabalhei 20 anos e que fez de mim o profissional que sou. De 100 CVs mandados, foi aquela empresa que me respondeu.
Um amigo com quem partilhei esta dúvida, e a quem disse que não tinha mérito nenhum das escolhas - ou seja, no início do caminho - mas apenas na arte com que o prosseguia, respondeu-me: de facto o mais importante é o que fazemos com aquilo que nos acontece, e não tanto o como ou o porquê das coisas acontecerem. Muitas vezes, tal como tu, fico a pensar se as causas das coisas não são meros acasos, casos fortuitos, bambúrrios de sorte ou má mão de azar... na minha vida "foi por um triz"...
Olho para a minha vida. Não fui inteligente nas escolhas que fiz, mas também não fui burro. Nas coisas mais importantes, tenho de reconhecer, tive sorte. O mérito, a haver, está apenas na inteligência com que segui a estrada que o destino (ou Deus, já agora) me ofereceu.
JdB
Discordo inteiramente.
ResponderEliminarTudo na vida são escolhas. O olhar que se prende ali, o emprego que se aceita, apesar de poder parecer o único, o amigo improvável que nos cai na sopa. Tudo se encaixa no momento, no contexto. Há adesão emocional, há decisão. Não foi um triz, foi porque tinha de ser, a sua conjuntura assim o ditou, apenas porque vocês estava lá.
Acredito nas escolhas inteligentes, por vezes intuitivas... A diferença está nas escolhas que fazemos e aí também acredito na iluminação de Deus, a forma como lhe damos atenção faz toda a diferença...
ResponderEliminarBeijinhos