25 maio 2016

Poemas dos dias que correm

Daniel Faria
Portugal 
10 Abr 1971 // 9 Jun 1999 
Poeta


***

Ausência

Fala

Ouvir-te-ei
Ainda que os segredos
As amoras me chamem

Diz-me
Que existirão lágrimas para chorar
Na velhice
Na solidão

Ainda que acordes os olhos dos deuses

Fala

Ouvir-te-ei
A coragem

Alguém de nós que já não está

Daniel Faria, in "Oxálida"

***

Há uma Mulher a Morrer Sentada

Há uma mulher a morrer sentada
Uma planta depois de muito tempo
Dorme sossegadamente
Como cisne que se prepara
Para cantar

Ela está sentada à janela. Sei que nunca
Mais se levantará para abri-la
Porque está sentada do lado de fora
E nenhum de nós pode trazê-la para dentro

Ela é tão bonita ao relento
Inesgotável

É tão leve como um cisne em pensamento
E está sobre as águas
É um nenúfar, é um fluir já anterior
Ao tempo

Sei que não posso chamá-la das margens

Daniel Faria, in "Dos Líquidos"

5 comentários:

  1. E para quê a publicação destas bizarrias ?. Para quê expor a patética de uns tantos idiotas que ousam reclamar ser poesia as meras sopas de letras, assinadas por presumidos ininteligíveis como é o caso do Herberto Hélder que na verdade ninguém leu, pois não há nada para ler e muito pouco para soletrar. ?

    ATM

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  2. Exactamente pela mesma razão que o seu comentário foi publicado - liberdade de expressão. Além do mais, em casa do nosso "publisher", manda ele.

    Quando quiser, pode sempre abrir um estabelecimento do género, onde misture prosa cartesiana, receitas de sopa e a divulgação dos autores que aprecia especialmente. E eu posso ir lá espreitar, com gosto, para me cultivar e desaprender o muito que aprendi com o Herberto Helder.

    Respeitosas, embora divergentes, saudações.

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  3. Não pergunto pelo fundamento ou legitimidade da edição, mas sim pela sua razão , o que são coisas bem diferentes.
    Sei que sou melhor a publicar receitas de sopa do que qualquer outro escrito, especialmente se este for da minha autoria.
    O comentário que deixei saiu-me demasiado azedo e até deselegante, isto , sendo benévolo. Peço desculpa.
    A minha intenção não é outra senão manifestar a minha perplexidade perante escritos que não consigo entender, nem quanto ao conteúdo, nem quanto à forma ou estilo. São absurdos, aclamados como extraordinários concretos de arte.
    Mas talvez seja um erro meu, uma ignorância crassa.
    Por isso, peço, com toda a sinceridade, que tenha a generosidade de me identificar, em concreto, um poema de Herberto Hélder que possa ler e então perceber porque muitos o classificam como o maior poeta da segunda metade do seculo XX. Basta-me um qualquer que que tenha ensinado muito, como refere.
    Será um favor que me presta e um contributo para a minha instrução.
    Obrigado e peço, como disse, a ressalva do meu excesso de manifestação.
    ATM

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  4. Conheço os dois comentaristas - embora do segundo comentarista só possa, de facto, presumir a identidade - de quem sou amigo e cuja inteligência invejo. E por conhecer bem os dois percebo que ambos têm razão embora, como já foi referido, o primeiro comentário tenha sido mais agreste.
    Como sabem ambos os comentaristas, tenha com a poesia uma relação errática. Muito do que se escreve / escreveu não percebo, como não percebo uma espécie de endeusamento que se fez do Herberto Hélder. Tanto assim é que pedi a quem sabe da poda que "defendesse", aqui no estabelecimento, porque HH é considerado tão bom.
    Continuarei a postar poesia: por vezes de fado (mais letras do que poemas) por vezes relativamente a um tema ou a uma época - ou a um poeta, como é o caso de Daniel Faria. com quem me cruzei num artigo a que poderão aceder através do link. DF morreu cedo, com 28 anos, mas era muito bem considerado. Era um católico que abraçou o sacerdócio. Tocou-me, embora já o conhecesse e embora tenha alguma dificuldade em entender estes dois poemas. Lermos poesia nunca é tempo perdido, porque um desafio intelectual ou sensorial nunca é tempo perdido.
    Obrigado aos dois comentaristas por irem partilhando a inteligência e cultura comigo.
    O editor e dono do estabelecimento.

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  5. Ah, as saudades de uma boa polémica, com elevação e um "granus salis" de insolência..
    Não alimento diálogos opinativos, mas, como dizia o outro, adaptado livremente: "quem se mete com os meus poetas, leva. Habituem-se!".
    Vamos lá ver se eu consigo , um dia destes, responder ao repto do escriba inicial e ao do editor do estabelecimento que teve a gentileza (e a paciência) de moderar este pequeno debate..
    Saudações com "fair play".

    vocês sabem quem

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