21 outubro 2016

Do Bach e das coincidências

Ouvi esta missa há poucas semanas na Gulbenkian. Está muito para além de uma obra bonita - falamos no domínio da genialidade. Ouvir estes nove minutos e meio é ouvir quase tudo. Vale a pena investir esse tempo para enriquecimento da alma. Se estivesse muito alegre ouviria este Kyrie. Se estivesse muito triste ouviria este Kyrie. Estou muito cansado, pelo que ouço este Kyrie.

***

Anteontem, no decorrer da conferência que me trouxe a Dublin, uma colega austríaca (com responsabilidades na organização a nível europeu) abordou-me com um desafio: se eu me dispunha a ocupar um lugar no board do CCI (Childhood Cancer International), uma espécie de confederação que abarca associações de pais e de crianças com cancro de todo o mundo - 180 organizações, 90 países, 5 continentes. Disse-lhe que sim, apesar de dentro de mim se fazer esta difícil pergunta: que valor acrescento eu a quem já faz um trabalho notável? Ao fim da tarde era eleito para um cargo que me obriga a saber mais, a estar mais por dentro dos assuntos da oncologia pediátrica a nível nacional e internacional, a ter contactos com os médicos da especialidade. 

Ontem, à saída de uma apresentação, dei de caras com o médico francês, Eric Bouffet, de quem já falei aqui. Oncologista pediátrico a trabalhar no Canadá, ensinou-me à distância quase tudo o que eu (não) precisava saber sobre tumores cerebrais, em 2001. Correspondemo-nos erraticamente numa dada altura, encontramo-nos nestas conferências. Informou-me que a partir de hoje será o próximo presidente do SIOP - sociedade internacional de oncologia pediátrica. Há coincidências significativas...

Cansado, folgado, triste, alegre - há sempre uma boa altura para se ouvir este Bach. Quando há estas coincidências também, porque parece que o mundo ficou micronesicamente mais alinhado dentro de mim.

JdB


2 comentários:

  1. JdB, não há melodia mais bela do que a da solidariedade em dádiva . Ainda mais sublime que Bach é a sinfonia do amor ao próximo. Boa sorte , maestro.Por si, «eu sou um Dublinense».

    ResponderEliminar
  2. Grande notícia!
    Parabéns! Este mundo precisa de si e você vai ganhar com este cargo!
    Lá está o serendipismo à espreita...
    Beijinhos

    ResponderEliminar

Acerca de mim