26 outubro 2016

Duas Últimas

Nos últimos dois ou três anos tenho frequentado a Gulbenkian. Como escolho os concertos, o natural é que gosto de quase tudo o que vou ver / ouvir. Já tive desilusões, já me maravilhei, já quis dormir, já me comovi. 

Gosto de ir à Gulbenkian - a sala é confortável, o público (mais) selecto, os lugares são marcados e a vista, quando abrem o painel de fundo, é muito bonita. No entanto, há um aspecto que me irrita solenemente, e sobre o qual já falei com várias pessoas que concordam comigo: o facto de se começarem a bater as palmas logo que a música acaba. E "logo" significa no instante imediatamente a seguir. Não há um segundo de intervalo.

Uma obra clássica não é um fado, em relação ao qual se começam a bater as palmas e a gritar "ah! boca linda!" ainda a fadista não acabou de dizer "madragoa". Na música clássica é preciso - absolutamente necessário, diria - que se façam segundos de silêncio depois de a música acabar, para que fique a ressoar dentro da sala e dentro das nossa almas. Já ouvi obras que acabam de forma empolgante, com a orquestra e / ou o coro a plenos pulmões. Já ouvi obras que acabam de uma forma serenamente bonita, que nos remetem para memórias fortes, sublimes. Uns segundos de silêncio ajudariam. Talvez fossem mesmo fundamental.

Deixo-vos com os 2 Cellos. Quanto ao primeiro, dizem os comentários que há esse silêncio de que falo. Não sei, ainda não vi.

JdB



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