05 julho 2017

Vai um gin do Peter’s?

Como o tempo voa, segue já um “gin” de aperitivo à exposição que estará no MNNA até 10 de Setembro, com cerca de 70 obras vindas de Itália. Quase meia centena são oriundas da Pinacoteca Vaticana, inspirando o título da exposição temporária. Sem exagero, é cognominada «TESOUROS DOS MUSEUS DO VATICANO»(1) .

Para Lisboa, viajou a réplica da Pietá, cujo original nunca sai da Basílica de S.Pedro.  Por isso, entre nós está o equivalente à imagem peregrina de Nossa Senhora de Fátima.    


Depois de dois anos de preparação, aproveitou-se o centenário das Aparições de 1917 para a expor em Lisboa, tendo por temática principal a figura de Maria. No painel identificativo da mostra, o rosto da Mãe de Jesus é um pormenor da tela de Vitale da Bolonha:

Detalhe da pintura deslumbrante de Vitale da Bolonha.

«Virgem dos Flagelantes», de Vitale degli Equi, dito Vitale da Bologna (Bolonha, 1309-1359).  Datada de c.1350, têmpera e ouro sobre gesso e cola sobre madeira formada por duas tábuas de choupo, com moldura em pastilha dourada

A colecção vaticana cedida, temporariamente, a Portugal inclui ainda tapeçarias, exibidas na secção «Sumptuosas Tapeçarias Papais», esculturas e códices iluminados, pertencentes ao acervo da Biblioteca Apostólica Vaticana.

De Itália vêm igualmente obras da Galleria Borghese (de Venusti e de Sassoferrato) e da Galleria Corsini, com Gentileschi e o magnífico Van Dyck – o artista católico híper discreto, que singrou no universo artístico flamengo. Para além de se impor pelo talento, diferenciou-se por dar primazia ao ser humano, preferindo gente comum, que só costumava ser figurante dos episódios retratados. 


O núcleo final da exposição inclui obras de colecções portuguesas, públicas e privadas, do Museu de Évora, da Fundação Casa de Bragança e do próprio MNAA. São 15 peças, maioritariamente de artistas italianos, que se enquadram na temática original da mostra. 

Da Antiguidade até ao século XX (com Chagall), a exposição percorre a iconografia mariana ao longo de quase dois milénios, expondo algumas peças que nunca tinham sido mostradas em público. 

«O Crucifixo (Entre Deus e o Diabo)» na interpretação fortíssima do atormentado Marc Chagall (Vitebsk, 1887-1985,St.Paul de Vence), nascido numa aldeia da Rússia profunda. Foi proscrito pelos nazis e pintou este Crucificado em plena II Guerra (1943), colocando a Mãe da Humanidade na primeira linha de combate contra o mal. De um lado, um ambiente glaciar em azuis e cinzas de aço; do outro, tonalidades flamejantes, também inusitadas para o padrão humano, entalado na luta renhida entre forças sobre-humanas. Tela em guache sobre papel. 

As mais antigas correspondem a altos-relevos do séc. III – fragmentos de sarcófagos infantis. Ambos representam cenas do Presépio, onde a figura de Maria se destaca ao lado do Menino. Curiosamente, antecipam em dois séculos o culto oficial da Igreja à Mãe do Salvador, instituído no século V. 

Nas telas no MNAA sobressaem o grupo de Primitivos italianos – Fra Angelico, Taddeo di Bartolo, Sano di Pietro e os grandes nomes do Renascimento e do Barroco, como Rafael, Pinturichio, Salviati, Pietro da Cortona, Barocci. De facto, em Portugal, aterraram obras míticas como: a «Virgem do Parapeito» de Pinturicchio, a «Natividade» de Ghirlandaio, ou os três painéis do Retábulo Oddi, pintados por Rafael sob encomenda de Maddalena degli Oddi, em 1502, para a Igreja de San Francesco al Prato, em Perugia.

«Virgem com o Menino entre São Domingos e Santa Catarina de Alexandria», c. 1435. De Fra Angelico (Vicchio di Mugello, c. 1395-1455, Roma). Têmpera e ouro sobre madeira.

«Virgem com o Menino», conhecida por 'Virgem do parapeito', 1496-98. Bernardino di Betto, dito Il Pinturicchio (Perugia, 1454-1513, Siena). Fresco destacado e transposto para painel (dito “cadorite”), com moldura dourada.

«Apresentação no Templo», predela do retábulo dos Oddi, 1503. De Raffaello Sanzio (Urbino, 1483-1520, Roma). Óleo sobre madeira de choupo

«Adoração dos Magos», c. 1580 1590 de Jacopo Tintoretto (Veneza, c. 1518-1594) e Domenico Tintoretto (Veneza, 1560-1635). Óleo sobre tela


Mesmo sem grande resolução, segue mais um par de imagens do manancial fabuloso que temos ao pé da porta. Bom demais: 

Tapeçaria flamenga a representar o Presépio.

Alto-relevo com a Sagrada Família e um anjo protector do Bebé.


É uma sorte a arte italiana vir ter connosco e passar uma boa temporada junto ao Tejo, para a podermos saborear no nosso ambiente e trazê-la para dentro do nosso dia-a-dia. Pelo menos, até 10 de Setembro, a arte festeja-se em Lisboa. 

Maria Zarco
(a preparar o próximo gin tónico, para daqui a 2 semanas)
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(1) http://museudearteantiga.pt/exposicoes/madonna.  Horário: de Terça a Domingo, entre as 10h às 18h00.

1 comentário:



  1. Obrigada, Maria Zarco, pelo seu post e sugestão - foi dos dias mais luminosos dos últimos tempos, o dia de ontem passado no MAA.

    Lindíssima exposição, acolhedor MAA, magnífico almoço no terraço!



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