Na minha actividade de empregado fabril travei inúmeros contactos com pessoas ligadas ao marketing e às vendas. Detectava-lhes no olhar e nas conversas uma certa estranheza quanto aos nossos processos, à nossa forma de pensar, aos nosso ritmos e à nossa noção de tempos, prazos, gestão e eficácia. Presumi-lhes a diferença pelo facto de sermos engenheiros quase todos, com um jargão próprio e uma desatenção atávica às necessidades dos consumidores.
O que nos diferenciava não era essa aparente ignorância do que a dona de casa queria no remanso do seu lar, ou uma certo jargão próprio, já que todos os misteres os têm, independentemente de serem multinacionais ou agremiações profissionais. O que nos separava era uma palavra simples: leveza.
O mundo está todo feito para a leveza - não só dos equipamentos, cada vez mais pequenos e em materiais menos pesados, mas das vidas. A comida de fusão tem uma leveza semelhante à volatilidade das relações conjugais, porque uma conjugalidade duradoura tem a densidade de um regionalismo gastronómico. A felicidade dos tempos modernos é um desejo de leveza: descartável, utilitária, frívola, sem critério de compromisso nem desejo de perenidade. Os corpos são leves, não porque haja nisso saúde, mas porque queremos saltitar entre nenúfares. O futuro é pesado, só o presente é leve.
Uma fábrica é, toda ela, pesada, por oposição ao seu contrário. Planeamentos, ordenação de maquinaria volumosa, cálculos de eficiências e encadeamento de acções para definição de caminhos críticos, gestão e classificação de pessoal especializado ou indiferenciado, folhas de cálculo são o oposto da leveza com que o mundo quer viver hoje em dia. A deslocalização não é, portanto, a procura da redução de custos de mão de obra, mas o desejo de estar actualizado, estar à moda, ser ligeiro, efémero, sorridente.
A diferença entre um engenheiro de fábrica e um profissional de marketing reside numa palavra apenas: leveza.
JdB
Outra associação genial.
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