10 outubro 2017

Crónica de um viajante a Washington (1)

Cheguei ontem a Washington. Entre sair de casa e entrar no hotel de destino passaram-se 20 horas. Quase 50% passaram-se dentro de um avião apertado, cheio, com gente que dá encontrões, com tripulação que dá encontrões. Em bom resumo, achei o avião indigno de uma viagem de 8 horas. Das viagens longas que fiz este ano, talvez este avião tenha sido o pior. Registo o desconforto na Air France. 

Da minha ingenuidade derivada dos livros e dos filmes de espionagem ou com isso parecidos, não há palavra que inspire mais terror, mais sensação de estado policial e de esbirros ao serviço do ditador comunista do que securitate. Não sei bem porquê, mas sei que segurança ou security ou securité não traduzem uma espécie de cacofonia temível. Penso que a palavra será romena, ou coisa parecida - e eu nunca estive na Roménia, mas entrei na Hungria e na Checoslováquia quando a cortina de ferro não era um adereço da Zara Home.

Estação de Woodley Park, Washington

Vem isto a propósito da entrada no aeroporto em Washington. Seria uma coisa temível, do tipo securitate, se não tivesse estado este ano na Índia, pelo que me habituei aos procedimentos que são iguais lá e cá: longas filas de gente, leitura digital do passaporte e dos quatro dedos dedos de uma mão, fotografia (derivado ao facto da câmara estar fixa, a fotografia foi-me tirada de baixo, o que me deu um ar absolutamente facínora), seguido de uma inspecção visual muito apurada por parte da gente do SEF local, mais leitura digital dos cinco dedos de cada mão (primeiro quatro, depois um, depois mais quatro, depois mais um) com uma conversa do tipo: de onde vem, quanto tempo fica, em que hotel, o que vem cá fazer. Respondi que vinha para uma série de reuniões com associações de pais e médicos ligados à oncologia pediátrica. Talvez o meu inglês não seja muito bom e haja uma outra tradução para a palavra, ou a menina que me interrogou não ouviu nada do que eu disse, porque se despediu com um sorridente enjoy

Enfim, é isto.  Durante os próximos dias é tempo de falar sobre oncologia pediátrica, de ouvir falar de oncologia pediátrica, de ouvir histórias de drama, sofrimento e esperança, e de descobrir o que me comove agora, nesta fase da vida, porque as minhas comoções já não são iguais às de 2006, quando comecei nestas reuniões.  E é tempo de rever amigos que se vão fazendo. Talvez não seja tempo de turismo, porque o tempo é pouco.

JdB

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