16 novembro 2017

Moleskine

Mestrados I
Cruzo-me nas aulas com uma colega do mestrado. Gosto de conversar com ela, pela simpatia, pelo sentido de humor e pela inteligência e cultura discretas que revela. Defendeu a sua tese de mestrado (baseado no livro A Consciência de Zeno) seis meses depois eu ter defendido a minha. Teve um 18. Hoje perguntei-lhe porque motivo escolheu aquele tema: porque é igual ao meu tio, que é uma pessoa muito importante para mim... Não foi uma epifania, uma vontade de deixar um escrito para a posteridade, um alarde de erudição - limitou-se a encontrar um ponto de intersecção com uma pessoa que lhe era próxima. 

Zimbabwe
Tenho acompanhado a situação no país de Mugabe, não por me interessar por política africana nem por compaixão por um país onde a esperança de vida anda pelos 35 anos, mais coisa menos coisa. Vivi lá dois meses e poderia copiar o Malato: já fui feliz no Zimbabwe. Interesso-me, de facto, porque lá vivi, e isso torna a tragédia e a esperança em algo mais próximo. Todos os dramas ou alegrias assumem uma dimensão diferente a partir do momento em que têm lugar em sítios que conhecemos. Dez pessoas morrerem no mercado de velha Delhi tem em mim um impacto superior à morte de 50 pessoas na Mongólia, porque conheço um, não conheço o outro. Um golpe de Estado no Zimbabwe suscita-me uma atenção que não suscita igual movimento na Costa do Marfim. 

Monte Ngomakurira, Zimbabwe, Setembro de 2008 

Mestrados II
Zeno é igual ao tio da minha colega. Diz-me ainda: o João sabe? O Joyce é igual ao meu avô. Este raciocínio é curioso. Em momento algum, que me lembre, consegui encontrar semelhanças entre pessoas que me são próximas e personagens de ficção ou personagens reais. Terei de estar mais atento, disse-lhe eu. A resposta veio rápida: não é preciso. As parecenças batem-nos na testa. Tenho de estar mais atento, mesmo assim.

Arquitectura religiosa


Por motivos da minha tese de doutoramento leio o livro acima. Muito, seguramente, por ignorância e preconceito meus, sempre tive uma opinião pouco positiva sobre a arquitectura religiosa desta época, formatado que estava / estou pela arquitectura "antiga", clássica, bonita. Mas impressiona-me positivamente o envolvimento de tantos arquitectos e outros artistas plásticos (todos católicos) na definição de regras, na adaptação do espaço à liturgia, no pensamento de uma arquitectura mais consentânea com os tempos de então, enquandrando fiéis e altar, por exemplo.

Cito o livro que cita o Pe. Couturier: A glória de Deus não consiste na riqueza e na enormidade, mas na perfeição da obra pura. Se as nossas igrejas fossem assim, poderiam recomeçar a ensinar ao mundo que muito pouco chega para o essencial

O despojamento, portanto.

JdB

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