28 novembro 2017

Textos dos dias que correm

Às portas do Paraíso

«Um homem bate à porta do Paraíso. “Quem és?”, perguntaram-lhe do interior. “Sou um judeu”, responde. A porta permanece fechada. Bate de novo e diz: “Sou um cristão”. Mas a porta continua fechada. O homem bate pela terceira vez e é-lhe de novo inquirido: “Quem és?”. “Sou um muçulmano”. Mas a porta não se abre. Bate uma outra vez. “Quem és?”, perguntam-lhe. “Sou uma alma pura”, responde. E a porta escancara-se.»

Místico e poeta muçulmano, Mansur al-Hallaj (852-922) foi primeiro crucificado e depois decapitado, deixando atrás de si uma extraordinária herança de fé e amor. Dos seus escritos extraímos esta parábola sugestiva. A verdadeira pertença religiosa não se mede – como sublinhavam os profetas bíblicos – pela adesão exterior, pelos atos de culto, pela ostentação, mas pela fidelidade íntima, pela pureza da alma, pelo amor operativo. É esta escolha de vida que escancara as portas do Reino dos Céus. Mas queremos agora juntar outra testemunha muçulmana (também para mostrar um rosto diferente do islão relativamente ao fundamentalista).

O místico Rumi (1207-1273), fundador dos dervixes rodopiantes, dizia: «A verdade é um espelho que, ao cair, se parte. Cada um toma-lhe uma parte e, vendo refletida a própria imagem, acredita que possui toda a verdade». O mistério glorioso da verdade precede-nos: devemos depor toda a arrogância ideológica e espiritual e escutar também o outro com a sua bagagem de verdade por ele descoberta. É certo que isto não significa que todas as ideias e crenças sejam automaticamente fragmentos de verdade, sendo possíveis as miragens, as ilusões, as cegueiras. A autenticidade brilhará através do amor, a doação a Deus e ao irmão, a procura humilde e apaixonada.


Card. Gianfranco Ravasi
Presidente do Conselho Pontifício da Cultura
In "Avvenire"
Trad.: SNPC
Publicado em 23.11.2017

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