07 março 2018

Duas Últimas

O meu avô paterno almoçava de segunda a sexta (quase) sempre no mesmo restaurante lisboeta, na mesma mesa situada a um canto, com as mesmas companhias, a discorrer sobre negócios familiares ou política, terminando invariavelmente o demorado repasto com o indispensável xiripiti e os cigarros sorvidos até ao filtro.

O meu pai almoçava muitas vezes num club, igualmente lisboeta, com usos francamente incompatíveis com a agora tão propalada igualdade de género (e afins), num ambiente propício a agradáveis e picantes conversas, com boa comida caseira e uns dados para testar a sorte e tentar passar a conta do almoço a amigo mais azarado.

Eu almoço em média umas três vezes por semana na cidade (?) onde trabalho, na margem sul do Tejo. Umas vezes bem, muitas vezes assim-assim. O assunto de que se fala é quase sempre trabalho pelo que, em calhando estar sozinho, não vem mal ao mundo por isso.

Os meus filhos "trabalhadores" almoçam à pressa, tenho até duvidas se chegam a sentar-se para, sendo optimista, atacar um bitoque e bebericar um fino.

Enfim, uma sequência pouco auspiciosa no que respeita ao aproveitamento do tempo para almoçar. A velha máxima de que "trabalhar é também almoçar", com tudo o que tinha aderente, está em acentuado declínio, nestes tempos de pressas, ânsias e competição desenfreada. Aliás, como ouvi ainda há pouco a pessoa recomendável, "se anseias muito é porque rezas pouco".......

Aos nossos ancestrais faltavam certamente muitas das facilidades e meios que temos hoje em dia. Mas tinham tempo e faziam por "estar", e valorizo muito isso, talvez porque tenho grande dificuldade (muitas recaídas....) em lhes seguir os bons exemplos,

Deixo-vos com o grupo "Os Quatro e Meia", nascido em 2013, e uma música com uma assertiva letra sobre as mães, pessoas desde sempre com pouco tempo para almoços, sejam eles grandes ou pequenos.

Espero que gostem da escolha.

fq


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