09 março 2018

Experiências dos dias que correm



Não só nunca tinha lido nada de Hilda Hilst como desconhecia por absoluto a sua existência. Vivo tranquilo com esta evidente - ainda que relativa - ignorância. Afinal, ao que parece, a poetisa brasileira é muito pouco divulgada em Portugal. Tomei conhecimento de alguma poesia dela na 4ªfeira, através da oratória tranquila, ligeira, mas sabedora, do Professor Gustavo Rubim, que foi, por coincidência, meu professor numa pós-graduação na Universidade Nova. Naquela altura eu era ignorante. Agora também sou - mas sei que sou, se é que me faço entender na nuance do raciocínio. 

Colegas académicos desafiaram-me para recitar algumas coisas dela. Não sei declamar - nem os meus colegas de performance de ontem, mas acho graça o desafio. Lendo fixo mais do que ouvindo...  Eram 13 poemas e os declamadores não se conheciam, tendo-se encontrado 5 minutos antes da sessão. Como decidir quem lê o quê? Simples: privilégios académicos. Em primeiro lugar uma colega já doutorada, depous um colega que defende a tese daqui a 2 meses e depois eu, o novato. Coube-me ler o poema que reproduzo abaixo e que me deu muito gosto ler em voz alta. Afinal, o silêncio diz-me muito, passe a curiosidade da frase, e é uma forma de despojamento. 

De facto o nosso silêncio - o bom e o mau - pode ser maior do que o silêncio do mundo. 

JdB

***

Não há silêncio bastante
Para o meu silêncio.
Nas prisões e nos conventos
Nas igrejas e na noite
Não há silêncio bastante
Para o meu silêncio.

Os amantes no quarto
Os ratos no muro.
A menina
Nos longos corredores do colégio.
Todos os cães perdidos
Pelos quais tenho sofrido
Quero que saibam:
O meu silêncio é maior
Que toda solidão
E que todo silêncio.

Hilda Hilst, in Roteiro do Silêncio, 1959

  

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