17 julho 2018

Textos dos dias que correm

Amor e Intimidade

Toda a gente tem medo da intimidade — ter ou não ter consciência desse medo é outra história. A intimidade significa expor-se perante um estranho — e todos nós somos estranhos; ninguém conhece ninguém. Somos mesmo estranhos a nós próprios, porque não sabemos quem somos.
A intimidade aproxima-o de um estranho. Tem de deixar cair todas as suas defesas; só assim a intimidade é possível. E o seu medo é que se deixar cair todas as suas defesas, todas as suas máscaras, quem sabe o que o estranho lhe poderá fazer. Todos nós andamos a esconder mil e uma coisas, não só dos outros mas de nós próprios, porque fomos criados por uma humanidade doente com toda a espécie de repressões, inibições e tabus. E o medo é que, com alguém que seja um estranho — e não importa se se viveu com a pessoa durante trinta ou quarenta anos; a estranheza nunca desaparece —, parece mais seguro manter uma ligeira defesa, uma pequena distância, porque alguém se poderá aproveitar das suas fraquezas, da sua fragilidade, da sua vulnerabilidade.
Toda a gente tem medo da intimidade. O problema torna-se mais complicado porque toda a gente quer intimidade. Toda a gente quer intimidade porque, de outro modo, está sozinho neste Universo — sem um amigo, sem um amante, sem ninguém em quem confiar, sem ninguém a quem abrir todas as suas feridas. E as feridas não saram se não forem abertas.

Osho, in 'Intimidade'

3 comentários:

  1. Tem de deixar cair todas as suas defesas;

    curioso porque isto é vulnerabilidade, mas sem vulnerabilidade não há intimidade.
    Outro dia falávamos sobre deixar cair as defesas para se poder ouvir atentamente, seria isto?

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  2. ACC,
    Agradeço a inesperada visita.
    Para mim, deixam-se cair as defesas para criar intimidade, não para ouvir atentamente. Talvez sejam os três graus da "escuta" que eu defendo: (i) ter tempo para ouvir, (ii) ouvir atentamente, (iii) criar intimidade. Um terapeuta fica pelas duas primeiras, embora possa criar proximidade; nunca criará intimidade, porque para isso é preciso prontificar-se (não sei se a expressão é esta) a ser vulnerável. E a vulnerabilidade implica deixar que se abram feridas. Nem todos querem, nem todos conseguem.
    JdB

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  3. Percebo. Mas como pode um terapeuta fazer que um paciente ou coachee se entregue se não consiguir criar intimidade?
    ter tempo para ouvir, (ii) ouvir atentamente, (iii) não chegam para que o outro se disponha a baixar as guardas. Tem de haver uma relação de confiança e de intimidade, que não é sinónimo de desmontar fraquezas e miudezas secretas.

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