|
Exterior do Palácio Imperial, Tóquio, Novembro 2018 |
|
Tóquio, Novembro 2018 |
Sábado sento-me a jantar, entre outras pessoas, com uma amiga que já estivera no Japão e que é uma entusiasta do país. Pede-me para eu referir um aspecto
apenas que me tenha agradado no país. Respondo após um minuto de pensamento:
a delicadeza. Vou então à procura de sinónimos que expliquem melhor a minha ideia: educação, vagar (aparente), civilidade, simpatia e educação, discrição. Mas há, sobretudo, uma certa delicadeza no trato. Diz-me um amigo, cujo pai viveu em Macau durante a II Grande Guerra (e que não era particular admirador dos japoneses) que com um chinês se pode (ou podia, noutro tempo?) estabelecer uma afectividade, mas com os japoneses não. E que nos japoneses esta delicadeza é cortesia e comportamento, não é interiorização.
|
Nara (ao pé de Kyoto), Novembro 2018 |
|
Kyoto, Novembro 2018 |
|
Kyoto, Novembro 2018 |
Tendo a discordar, mais por necessidade de me não entregar à desilusão do que por motivos científicos. Não tenho - nem nunca tive - apreço pelos chineses. É um povo que não me é simpático, que tem uma exuberância e um
ruído (não só no tom de voz, mas também nos aparentes comportamentos sociais e no que já foram os vestuários, nas cores) que me desagrada. Sei que os japoneses, saindo dos seus jardins relaxantes e estéticos, são capazes dos gestos mais brutais e violentos, como se viu durante a II Grande Guerra. Percebe-se também, pelo facto do suicídio ser a principal causa de morte no Japão (não afianço esta informação, apanhei-a de
esguelha numa apresentação) que nem tudo é sossego e delicadeza: há frustração, há stress profissional, haverá também uma certa incapacidade para lidar com o insucesso, com a diferença relativamente a um padrão.
|
Kyoto, Novembro 2018 |
Não obstante tudo isto - mais tudo aquilo que desconheço ou que não referi - o que saliento do Japão é a delicadeza. A delicadeza estética dos jardins; a delicadeza estética dos kimonos, da apresentação da comida, da abordagem das pessoas nas ruas ou nas lojas; a delicadeza estética da cerimónia do chá (diz-me esta amiga que este cerimonial se baseia na nossa missa, no que se refere ao manuseio das alfaias religiosas) ou dos poemas com dezassete sílabas e três linhas (os
haiku)
o coração viajante não se enraíza
antes quer ser
braseira ambulante (1)
ou ainda a delicadeza de quem, à nossa frente, serviu e semi-confeccionou uma série de pratos tipicamente chineses. Talvez mesmo, porque não, a delicadeza das cores das árvores neste tempo em Kyoto, e que o meu amigo fq comentou no post de ontem. Por último, mas não se esgotando o rol, uma certa delicadeza no trato, no respeito pelos mais velhos ou na educação das crianças para não incomodarem o próximo.
Voltaria ao Japão? Sim, amanhã, para encontrar mais aspectos da vida onde a delicadeza se faz sentir.
|
Kyoto, Novembro 2018 (fotografia de ACC) |
JdB
-----------
(1) [in "O Eremita Viajante", de Matsuo Bashô. (Assírio & Alvim, 2016, Tradução de Joaquim M. Palma)]
Pois... Um povo algo estranho mas, simultaneamente, fascinante e, sem dúvida, simpático; já recebi alguns nas minhas actividades profissionais e gostei bastante do "intercâmbio". Para nós, se calhar, com extremos ao longo da sua história que não entendemos muito bem... mas, também, qual é o povo que, dominando, não teve extremos...?
ResponderEliminarCaro Laurus Nobilis,
ResponderEliminarObrigado pela sua visita. Por estes dias circulamos entre a Namíbia e o Japão, o que me parece um périplo geográfico interessante.
Ontem falava com um amigo que, muito mais novo do que eu, mas atento às coisas do mundo, tinha opiniões sobre o Japão, onde inclusivamente já esteve. E dizia-me ele que o Japão está "entalado" entre duas realidades: o passado, cheio de tradição, cultura local, hierarquia e respeito, e a modernidade, cheia de "americanices", coisa da Europa ou do mundo ocidental, modernidade e, quem sabe, rompimento com um certo passado. e talvez não se estejam a dar bem neste espécie de twilight zone...
Abraço