O meu nome é paciência
«Há quem diga que no Paraíso, Deus chama cada eleito com o nome de uma virtude. Não poderá chamar-me Esperança: não esperei nenhuma alegria nem na Terra nem no Céu. Nem Fé: não estive certa. Nem Caridade: amei Deus e o próximo com parcimónia. Nem Generosidade: contei, pesei e medi tudo.
Nem Zelo: não tentei conquistar. Nem Pobreza: comprazo-me no meu bem-estar. Nem Humildade: comprazo-me dos meus pensamentos. Nem Sinceridade: não sou verdadeira. Nem Ciência: não tenho memória. Nem Piedade: não tenho ardor. O nome será o do burro: Deus chamar-me-á Paciência.»
A citação é hoje um pouco longa, mas as palavras da poetisa espiritual francesa Marie Nöel (1883-1967) no seu “Diário” secreto são tão límpidas, que não exigem longos comentários.
Ter a virtude do animal mais desprezado, mas também mais útil e simples, é na verdade uma qualidade importante que arrasta consigo outras virtudes de maneira implícita.
Numa sociedade como a nossa, que vive com frenesim, que não sabe esperar, que quer tudo “em tempo real”, que pragueja se está numa fila e o outro não se despacha, que “não tem tempo”, o convite à paciência pode parecer uma extravagância “de chinês” que não tem nada que fazer, como costuma dizer-se.
Em vez disso, todavia, seria preciso mais pensar naquilo que um escritor francês mais célebre, Honoré de Balzac, afirmou num dos três contos das “Ilusões perdidas” (1837-43): «A paciência é aquilo que no homem mais se assemelha ao procedimento que a natureza usa nas suas criações».
Para fazer um bebé são precisos nove meses e para escrever uma obra-prima talvez décadas. Não entremos neste ano novo querendo tudo e agora, mas entreguemo-nos à paciência que conhece os ritmos e os tempos da vida, e por isso gera serenidade e confiança.
P. (Card.) Gianfranco Ravasi
In Avvenire
Trad.: Rui Jorge Martins
Publicado em 07.01.2019
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