18 março 2019

Do vegetarianismo como fonte de tristeza



Declaração prévia: a fotografia acima, que ilustra o texto abaixo, não é mais do que um exercício de tentativa de humor. Não pretende apoucar ninguém que tenha sido afectado pela anorexia, nem pretende diminuir as pessoas que fazem opções alimentares com base em juízos ponderados.

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As teorias mais falíveis e, por isso, as que menos se prestam a discussões, são as elaboradas de forma impulsiva, baseadas em percepções, embirrações ou fetiches. Estas teorias não se combatem porque não se sabe onde está a argumentação que as sustenta.  O pensamento que desenvolverei abaixo podia, por isso, assentar numa patetice apenas, numa ideia vestida de embirração. Pelo contrário, tem por trás um raciocínio que, embora não infalível, tem o seu quê (ainda que pouco) de lógico e pensado, o que abre uma brecha na muralha... Eu explico:

Ontem ao pequeno almoço, lamentando não poder deglutir duas torradas de pão saloio barradas de generosa manteiga, dei por mim com uma certeza partilhada em voz alta: não conheço vegetarianos (menos ainda adeptos do veganismo) que aparentem um ar verdadeiramente feliz. Aliás, acho que revelam todos um semblante triste, talvez flácido, pouco enérgico, nada vivaz. 

O vegetariano (e incluirei aqui os adeptos do veganismo, por facilidade de exposição) assentam a sua conduta alimentar na recusa. Tudo neles está pendurado numa palavra: não. Poderão eles alegar que comem vegetais e frutas, e que isso é dizer sim - pelo menos aos vegetais e frutas. Acontece que estes dois alimentos, embora abundantes e propiciando uma abundância de receitas (falam-me no alho francês à Braz e no bife de tofu) são uma minoria de entre a variedade de géneros que podem comer-se. Significa isto que à maioria das coisas que existem na natureza, o vegetariano diz não. Diz não ao bife, diz não ao entrecosto ou às lulas, diz não à pescada cozida ou ao salmão grelhado, à chanfana ou ao franguinho da Guia. O vegetariano diz não, e não e não. Recusa quase tudo.  

Entre o vegetariano e a velha solteirona há semelhanças assinaláveis - a recusa feita quase religião. O vegetariano diz não às favas com chouriço como a velha solteirona diz não ao beijo carregado de paixão e demora. Ambos, acantonados cada um na sua trincheira, dizem não ao prazer saudável, ao pequenino excesso, àquilo que, num caso, une mais as pessoas - uma mesa onde se almoçou ou jantou. Ambos fazem da recusa, do não proferido com um ar de horror, um hábito de vida. São os animais que morrem para dar comida, são os corpos enleados para gerar prazer. A tudo isto se diz que não, em nome de uma ética forte ou de um combate da devassidão. Este combate, feito em nome de valores muito próprios, é um combate árido, que esmaece as feições porque o corpo e a alma, para se habituarem à recusa, hibernam em permanência, fogem do sol e refugiam-se numa aparente seriedade onde não entra a sensualidade, porque é pecado, ou o pargo legítimo, porque foi pescado ainda vivo.

Gostaria que me apresentassem um comediante vegetariano para, num exercício de humildade saudável, eu reconhecer a inutilidade da minha certeza. Até lá, até ser esmagado pelo peso da evidência, ergo bem alto a bandeira da minha convicção: ser vegetariano (como ser puritano) torna as pessoas tristes. 

JdB

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