Camilo Pessanha nasceu filho ilegítimo em 1867. Era opiómano, viveu em Macau e escreveu (ou escreveram-lhe) um livro chamado Clepsidra, que era um relógio de água que, medindo o tempo através do escoamento de água de um vaso, servia para controlar o tempo de oradores ou de oradores, já não sei bem. De Piazzolla sei pouco, a não ser que era argentino e compunha tangos que, para mim, não chegam aos calcanhares dos cantados / compostos por Gardel, carregadinhos de sensualidade. Mas sei que compôs uma obra bonita, chamada Oblivion, que pode traduzir-se por olvido. Não me parece que Astor e Camilo se tivessem cruzado - talvez no céu em que ambos acreditariam de forma diferente, porque um bandonéon é diferente de um cachimbo de ópio. Ou não, sei lá eu...
JdB
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Desce por fim sobre o meu coração
O olvido. Irrevocável. Absoluto.
Envolve-o grave como véu de luto.
Podes, corpo, ir dormir no teu caixão.
A fronte já sem rugas, distendidas
As feições, na imortal serenidade,
Dorme enfim sem desejo e sem saudade
Das coisas não logradas ou perdidas.
O barro que em quimera modelaste
Quebrou-se-te nas mãos. Viça uma flor...
Pões-lhe o dedo, ei-la murcha sobre a haste...
Ias andar, sempre fugia o chão,
Até que desvairavas, do terror.
Corria-te um suor, de inquietação...
Camilo Pessanha, in 'Clepsidra'
Só para aborrecer... Só ouvimos o desagradável da boca daqueles que nos estimam.
ResponderEliminarTraduza 'Oblivion' por esquecimento; olvido é castelhano; ou portuga repescado.
Cumprimenta
Por agora,
ResponderEliminarVolto a agradecer a sua visita e o desagradável que acompanha a estima.
Não traduzirei, confesso: gosto da palavra, olvido é português, dá-me jeito para o post e foi usado por Camilo Pessanha, um poeta, dizem, injustamente esquecido. Até o Eça a usou numa carta de Fradique Medes a Madame de Jouarre. Poderia procurar outras utilizações do termo mas, se não leva a mal, vou usar uma fórmula habitual neste espaço e que nada tem de arrogante, apenas de infantil: o estabelecimento é meu...
Vá lá, Por Agora, conceda-me um pouco de razão...
«Vá lá, por agora, conceda-me um pouco de razão...»
ResponderEliminarUm pouco...