Mas quanto mais pobre estou desse conteúdo humano, mais cheio me sinto de desespero. O que eu dava para me levantar cedo esta manhã, ir à missa, e voltar da igreja com a cara que trazia o meu vizinho!
Não é que eu tenha verdadeiramente pecados, ou que, se os tivesse, algum Deus fosse capaz de me lavar deles. (Até o último aldeão sabe que quando muda um marco não há céu que lhe benza a maroteira).
Queria era sentir-me ligado a um destino extra-biológico, a uma vida que não acabasse com a última pancada do coração."
(Miguel Torga (“Diário I vol.)
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"Ser incréu custa muito! É dia de Páscoa. O gosto que eu teria de beijar também o Senhor, se acreditasse! Assim, olho a fé dos outros em aleluia, e fico nesta tristeza agnóstica que faz da vida uma agónica aventura sem esperança de ressurreição."
(Miguel Torga, Diário XIII)
O que Adolfo Rocha relata está, segundo eu depreendo, assente no Vazio, no Nada.
ResponderEliminarMas nele, o Vazio é um Vazio prenhe de coragem!
Naquelas linhas ele revela o que todos nós sofremos nesta 'aventura sem esperança'.
Dos poucos homens que 'da lei da morte' sempre se sentiram libertos.