05 junho 2019

Vai um gin do Peter’s ?

VASTIDÃO DO CÉREBRO PARA ALÉM DAS ESTRELAS – na Gulbenkian, até 10 de Junho

Aprofundar o cérebro, enquanto estrutura biológica mais complexa da natureza, é o desafio científico e cultural que a Gulbenkian (1) proporciona ao público, até ao próximo Domingo. A simples visão das metamorfoses operadas pelas infinitas ligações neurológicas produzidas no cérebro humano, a cada centésimo de segundo, redunda numa aventura imperdível e de uma beleza estonteante. 

Iluminado por luz branca, lembra uma peça de joalharia.

Centro motriz e sensorial – Movimento e Sensação /Motor and Somarosensory Cortex

Apesar das enchentes, vale a pena ir à sede da Fundação ouvir, em sentido literal, a actividade do nosso cérebro, desbravar o funcionamento do órgão mais prodigioso que conhecemos, perceber a lógica e o âmbito de acção da Inteligência Artificial, assistir à azáfama ininterrupta de pequenos robots encarregues de pintarem uma tela por semana a partir de uma programação-base que permite às máquinas um espectro infindável de opções, como se fossem livres… E assim penetrarmos num horizonte que desconhece os limites do céu, suplantando a vastidão cósmica.  

O neurocientista e artista Greg Dunn denominou «self reflected» à série de imagens explicativas do modus operandi do cérebro humano [in http://www.gregadunn.com/self-reflected/the-neuroscience-behind-self-reflected/]

Esquematização simplificada para localizar as diferenciar  os centros operativos das inúmeras funções cerebrais.

O neurocientista norte-americano Greg Dunn somou duas paixões – a investigação da estrutura da mente e do comportamento humanos e a arte que replica o esplendor visual desse frenesim das conexões sinápticas que interligam 86 biliões de neurónios. Mal terminou o doutoramento em neurociências (2011), lançou-se na captação de imagens do cérebro, aplicando-lhes luz e cor para diferenciar as infinitas ligações e as múltiplas funcionalidades localizadas na caixa craniana. Chamou-lhe arte neuro-científica e nem disfarçou o fascínio da colecção recolhida, intitulando-a de «O MILAGRE DO SEU CÉREBRO EM COR»:


NEURAL MIGRATION

Dunn e o físico Brian Edwards inventaram ainda uma técnica de transposição de imagens do cérebro para litografias, por efeito de contraste. A nova série foi denominada de «Self Reflected», por pretender revelar a natureza da consciência humana colocando a par duas perspectivas impossíveis de conciliar nas observações, embora o resultado se aproxime da realidade: o plano macro do funcionamento global do cérebro e o plano micro da movimentação frenética dos neurónios. 

A simplicidade da arte oriental perpassa nas imagens que a dupla de cientistas-artistas captou, indo ao encontro das preferências pictóricas assumidas por Dunn: «I enjoy Asian art. I particularly love minimalist scroll and screen painting from the Edo period in Japan. (…) I admire the Japanese, Chinese, and Korean masters because of their confidence in simplicity. (…) (The cells that comprise your brain) can be painted expressively in the Asian sumi-e style. Neurons may be tiny in scale, but they possess the same beauty seen in traditional forms of the medium (trees, flowers, and animals).»


SPINAL CORD. 



Sobre o sentido geral daquelas incursões neurocientíficas e posterior aplicação à arte, Dunn explicou: «When I was a kid, I used to ask the question, “Is there any single thing that every person has?” Material things are eliminated, periphery body parts are out. The brain is really the only thing that we all have. It’s the common denominator. I want people to understand that the brain is a miracle. It’s the most sophisticated machine, or piece of biology, in the universe that we know of. It’s at the fundamental root of everything that we ever will do and who we are. It’s important to remember that sometimes. Part of the reason that I chose some of the materials that I use, like gold, is to give the brain it’s lofty due. (…)  I want people to have an idea what their brain really is. There are billions of things happening in your brain at every instant – it will always be that way. It’s vain to think that nature’s beauty ends at the narrow band of what we see and hear and perceive. (…) It really is a humbling thing to think about how different people’s brains are. How similar they are from a macroscopic standpoint, but when you get into the details, the completely different sets of memories, it’s a very humbling thing to think about.» 

À americana, criou também posters para venda online, estando vários em contínuo “esgotado”. Resultam em telas lindas com toque intergaláctico, no limiar de um maravilhoso mundo novo. Percebe-se por que mereceram lugar de honra na Gulbenkian, abrindo a exposição ao som de música composta por Rodrigo Leão, numa parceria muito feliz: 


Apetece citar alguém que assistiu a um desfile de modelos praticamente nuas e teve esta saída bem humorada: «Isso não é obra tua! É obra de Deus!» Quem diria que uma grandeza tão espantosa habitava a mente humana? Dá para perceber por que é mais vasta do que o céu…


Maria Zarco
(a  preparar o próximo gin tónico, para daqui a 2 semanas)
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 (1) https://gulbenkian.pt/fcg_videos/viagem-ao-cerebro-mais-vasto-que-o-ceu/

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