24 setembro 2020

Duas Últimas (sugerido por mão amiga)

 

Confirmei uma estranheza vaga que me chegou via faculdade: num tempo ido, os Beatles gravaram uma música que se chama Komm, gib mir deine hand. Para os curiosos, no youtube é fácil encontrá-la com este nome. Estranhamente, é igual a uma música que a banda gravou, e que se chamava I wanna hold your hand. A versão alemã seria traduzida por vem, dá-me a tua mão, a versão inglesa por quero segurar a tua mão. Confesso que não me atirei a uma leitura comparada das letras em ambas as versões. O meu alemão é básico e, se o não fosse, talvez a análise fosse dolorosa, dada o carácter genericamente gutural da língua germânica. 

Confesso ainda que, se não soubesse o que estava a ouvir, talvez achasse que ouvia a versão original; ou talvez fosse apenas a qualidade do som, não sei. O importante é que eu ouvia a mesma música, sendo que para outras pessoas eu poderia estar a ouvir uma música diferente, pese embora a melodia igual e os intérpretes iguais.

O que ouvimos quando ouvimos uma música numa língua que não a nossa? O que nos encanta quando nos encanta uma música numa língua que não a nossa? O que dançamos e o que cantamos? A música, a letra, ou ambas? O raciocínio acima não é desligado da música que aqui apresento: quem não sabe francês pode gostar desta música? Se sim, do que gosta? É a melodia, ou talvez a interpretação, naquela toada de samba juvenil? E o que canta quem canta esta música mas não domina a língua? Canta sons, apenas. Porém, se não percebe o que canta, tanto faz cantar em francês ou num dialecto esquimó. É assim?

E o que acontece se a música for em português? Que importância damos à letra? 

JdB

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