27 novembro 2020

Diego Armando

Some people think football is a matter of life and death. It's much more than that.

Bill Shankly

O que pode alguém escrever sobre um jogador de futebol que nunca viu jogar? Sobre alguns muito pouco, sobre a maioria nada. Excepto se esse jogador for o Maradona.

Ainda não era nascido no México '86, quando um só jogador levou um país às costas para ganhar o troféu maior do futebol. Sou demasiado novo para me lembrar do icónico aquecimento antes de uma meia-final da Taça Uefa em 1989. No entanto, com a morte de Maradona, senti que o seu alcance era mais que o desaparecimento de um dos grandes nomes do desporto.

Porquê?

Nunca o vi jogar. Não era do meu país. Nem sequer jogou pelo meu clube. Acho que a resposta é que não morreu só um antigo jogador de futebol, morreu, na verdade, uma parte do jogo. É quase como se  um antigo funcionário de um clube, no seu último dia, fosse antes ao relvado e levasse um quadrado de relva ou a bandeirola de canto consigo para a reforma.

Poucos jogadores na história do desporto conseguem ser tão polémicos e divisivos como Diego Armando Maradona. Nenhum jogador teria a ousadia de, não só se orgulhar de um golo ilegal, como dizer que essa batotice era justificada por razões políticas. Mais que isso, teve ainda o descaramento de lhe chamar a Mão de Deus. Os seus excessos e vícios eram públicos e, em última análise, terão levado ao seu declínio e à sua espiral descendente. Isto, e mais um sem-número de casos, fazem dele uma figura pouco consensual.

No entanto, na história de futebol, ninguém consegue ser tão adorado, admirado e suspirado como Diego Armando Maradona. No mesmo jogo em que marca o golo com a mão, passados 4 minutos, marca um golo em que finta 5 jogadores, uma equipa, um país inteiro e a história do desporto. Esse sim, um golo divinal, o Pé Esquerdo de Deus. Tem, inclusivamente, uma igreja fundada em sua honra, com fiéis, mandamentos e outros preceitos. Maradona pega num desporto e eleva-o a um nível quase religioso, quase místico. E mesmo que não façam para da Igreja Maradoniana, qualquer fã de futebol partilha de alguma reverência pelo eterno número 10.

Na interminável e aborrecida discussão sobre qual é o melhor jogador de futebol de sempre Maradona é sempre um nome a ter em consideração. Se o é? Penso que não, mas isso não é relevante. Porque Maradona é mais que isso, é um mito, é um ícone, e portanto não tem espaço numa simples lista de jogadores. E isto faz dele não o melhor mas, sem dúvida, o maior jogador de futebol de todos os tempos.

Termino o texto com o sétimo mandamento da Igreja Maradoniana:

Honrar los templos donde predicó y sus mantos sagrados.


SdB (III)

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