02 março 2021

Do preto e branco

 


Num certo sentido, ainda não se inventou nada mais bonito do que a fotografia a preto e branco. Em bom rigor, o título da música Alone Together teria de ser ilustrado por uma fotografia a preto e branco: e a fotografia de Chet Baker - trompete descaído, uma mão firme no microfone, um olhar sobre uma audiência que, felizmente, não se vê - ilustra na perfeição uma certa nostalgia que perpassa da música.

A fotografia a preto e branco é intemporal; a fotografia a cores é moderna. Nesta dicotomia talvez esteja a explicação para uma certeza: há coisas que ficam, há coisas que existem. Daqui a 100 anos ouvir-se-á música clássica, ou a música que existiu até meados dos anos 80; daqui a 100 anos o preto e branco será visto como uma preciosidade; as cores servirão para revelar a existência das coisas, não a alma das coisas. É um registo, não é a essência. 

Ouvir Chet Baker ou, acima de tudo, ouvir Alone Together, é ver a vida a preto e branco, é chegar ao osso de tudo. O resto é uma cor puxada por via de uma aplicação informática.

JdB     






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