04 abril 2022

Do que faz sentido mudar e não faz sentido mudar

Janto há umas semanas com amigos, uns com filhos(as) já casados, outros com filhos(as) ainda por casar. Fala-se de tradições: a noiva que dá a boda e o noivo que monta casa, os números de convites para cada um dos lados, o texto a colocar no convite, etc. Percebe-se que a tradição é algo fluido, pouco estático: numa grande parte dos casos o casamento é oferecido por ambos os lados, mas a noiva ainda entra pelo braço do pai; muitos casais avançam para o casamento após um período mais ou menos longo de coabitação, mas a noiva ainda quer ir de branco. Há Pais que acham que devem pagar a boda e, com isso, impor o número de convites a disponibilizar ao lado do noivo, mas a festa já é, quase sempre, dos noivos.

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Almoço há uns dias com um amigo, e conversamos sobre Igreja. Falamos de tradições, de hábitos, do que faz sentido mudar, ou mesmo se faz sentido mudar. Lembro-me de duas posições críticas - iguais mas de sentidos opostos - à Igreja Católica: uma posição diz que o mal da Igreja é manter-se ancilosada em posições antigas, que não fazem sentido; no fundo, que a igreja não se actualiza. A outra posição diz que o mal da Igreja é achar que deve actualizar-se, acompanhar os tempos; devia estar menos preocupada em navegar ao sabor do tempo.

Onde me situo eu, quer na história dos casamentos, quer na história da Igreja? Na posição mais fácil, naquela que diz confortavelmente: tudo depende. Já não faz sentido que seja a noiva a pagar a boda (excepto se o pai da noiva puder e quiser) mas faz sentido que a noiva entre pelo braço do pai. Não faz sentido a abstinência do consumo de carne nas 6ªs feiras da Quaresma, mas faz sentido que os padres andem vestidos de padre. Podemos falar das senhoras com véu, da missa em latim, da moral sexual, etc.

Percebo que a prática religiosa não deve assentar numa ideia de supermercado: sirvo-me do que quero ou me dá jeito. Sei que as regras não devem ser relativas, que não podemos deixar ao livre arbítrio de cada um o que fazer ou não fazer, o que cumprir ou não cumprir. Sei também que ser católico é fácil, requer pouco esforço, que as regras são poucas e pouco cumpridas. Porém, por outro lado, também sei que há regras que não fazem sentido à luz dos tempos modernos. No entanto...

Podia ficar aqui até amanhã a perorar sobre o assunto, mas falta-me o tempo e sobra-me a compaixão pelos meus leitores. O que fazer, então? Depende...

JdB      

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