NO ANO DA MORTE DE FERNANDO PESSOA (I)
Por mérito de um italiano ligado ao maior evento cultural da Europa – o «Meeting» de Rimini (lançado em 1980) – receberam destaque três poemas de Fernando Pessoa desconhecidos em Portugal, à parte de um par (mesmo!) de especialistas na obra pessoana(1).
www.meetingrimini.org/edizioni/edizione-2022/ |
As três composições têm em comuns datarem do último ano de vida do poeta (1935), centrarem-se na figura de Cristo e serem pouco conhecidas do grande público. Neste “gin” segue o poema partilhado por mão amiga, participante na edição do Meeting de Rimini deste ano, que dedicou uma exposição ao poeta que mais se desdobrou em heterónimos:
Cartaz da mostra dedicada a Pessoa e intitulada a partir da sua frase: «Se voglio, voglio l’infinito». |
Fita do alto trono os seus mesquinhos.
Ao meu Rei coroaram-n'O de espinhos
E por trono Lhe deram uma cruz.
O olhar fito do Rei a si conduz
Os olhares ansiosos e sozinhos.
Mas mais me fitam, e mortas sem carinhos,
Essas pálpebras mortas de Jesus.
O Rei fala, e um seu gesto tudo prende,
O som da sua voz tudo transmuda.
E a sua viva majestade esplende;
Meu Rei morto tem mais que majestade;
Diz-me a Verdade aquela boca muda;
E essas mãos presas dão-me a Liberdade.»
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Versão do poema sem título de F. Pessoa (1935) adoptada na tese de doutoramento de Carlos Pittella-Leite: “Pequenos infinitos em Pessoa: uma aventura filológico-literária pelos sonetos de Fernando Pessoa”.
É invulgar, mas interpelativo, as férias poderem ficar associadas a pedidos maiores como o do grande poeta português, que reclama pelo infinito, por uma infinita e eterna liberdade! Porque férias também são tempo e tempo não quadra com silly season.
Maria Zarco
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(1) Caso de Carlos Pittela-Leite, cujo tema do doutoramento foram os sonetos de Pessoa.
Muito bem. Sucinto e rico. Isto é mesmo seu.
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