SABOTAGEM NO DIA DA RÚSSIA?
As pesquisas interessantes do jornalista José Milhazes (fluente em língua russa) aos meandros da guerra na Ucrânia, a partir da perspectiva do país invasor, permitiu-nos conhecer inúmeros actos heróicos de cidadãos russos críticos da barbárie de Putin em território ucraniano. Com risco de vida, têm denunciado o rol de mentiras e de crueldade do Kremlin, que insiste na impiedosa invasão de outro país soberano. Como se não bastasse a destruição de cidades ucranianas, alvejando sem escrúpulos alvos civis, Moscovo também se tem revelado insensível às baixas das suas tropas, escondendo e mentindo sobre o número de mortes, que já atingiu cifras obscenas, cada vez mais difíceis de assumir junto da população russa sem aumentar a turbulência interna.
Um dos actos que resultou mais divertido e de provável sabotagem perpassou nos cartazes destinados a abrilhantar os festejos do dia da Rússia, este ano (a 9 de Maio). Do lay-out à imagética usada, nada pareceu inocente, destacando-se a associação das tropas russas aos nazis que invadiram a Rússia durante a Segunda Guerra Mundial. Como não perceber a insinuação de que Putin será o Hitler do nosso tempo? A intrigante colecção de cartazes vem explicada com bom detalhe neste artigo gentilmente cedido pelo autor:
«A guerra das bandeiras
O espectáculo da parada militar de 9 de Maio em Moscovo, carregado de símbolos bélicos, não é fácil de interpretar.
Que significam tantas foices e martelos? Porque é que muitos esquadrões desfilavam com bandeiras vermelhas? E havia tantas insígnias comunistas? E enormes decorações da extinta União Soviética? As iniciais do país voltaram a ser CCCP (União Soviética), como estava escrito em letras garrafais na praça Vermelha? Que faziam tantas fotografias de Stalin na parada militar? Ainda mais, porque é que os cartazes de propaganda da parada de 9 de Maio usavam símbolos nazis e fotografias norte-americanas?
Felizmente, a Rússia não virou comunista, nem nazi. A história é mais longa.
Quando se deu o Cisma do Oriente (ano 1043) e o mundo grego quebrou a unidade da Igreja Católica, a Rússia acompanhou Constantinopla, que então se considerava «a nova verdadeira Roma». Quando os Otomanos invadiram Constantinopla (ano 1453), Moscovo considerou-se a herdeira desse título, passando a ser «nova-nova verdadeira Roma». É por isso que, até hoje, os ortodoxos russos se consideram os eleitos por Deus para salvar a Terra.
Durante quase um século, os comunistas perseguiram o povo em nome do ateísmo. Esse período terrível não deixou saudades, excepto num ponto: foi o momento em que mais povos estiveram submetidos à autoridade de Moscovo. Com a queda do comunismo, algumas dessas colónias aproveitaram para ficar independentes, o que é considerado pela Igreja Ortodoxa russa o retrocesso mais grave dos últimos séculos. Assim se explica que uma igreja cristã erga as bandeiras do regime comunista, não já como símbolos marxistas, mas como momento alto do imperialismo russo.
Nos seus múltiplos esforços para acabar com a guerra, o Papa falou por vídeo-conferência com o Patriarca Ortodoxo de Moscovo no dia 16 de Março. Infelizmente, a conversa não correu bem. Ao fim de ouvir durante 20 minutos o Patriarca ler um discurso a defender o direito da Rússia a invadir a Ucrânia, o Papa Francisco não se conteve e interrompeu-o: «Irmão! Não pode fazer de menino do coro de Putin!». Parece que o Patriarca vê a hierarquia ao contrário: Putin é que é o santo servidor do Patriarcado de Moscovo.
Alguns russos não concordam com este programa imperialista e talvez isso explique as imagens nazis nos cartazes de propaganda russa. Quando o regime se deu conta da brincadeira, era tarde demais. Os cartazes já estavam na rua, a sugerir ao povo russo quem faz actualmente o papel dos nazis.»
Que significavam os símbolos comunistas na parada militar de 9 de Maio? |
Olhando para as decorações da praça Vermelha no 9 de Maio, parecia que o país voltava a chamar-se União Soviética: CCCP. |
José Maria C.S. André
(a preparar o próximo gin tónico, para daqui a 2 semanas)
MZ,
ResponderEliminarTenho o dever de lhe dizer.
Vexa, por nada entender de política, devia abster-se de análises nesta área e, sobretudo, deste jaez. Como está escrito, mais vale passar por estúpido do que abrir a boca e dissipar todas as dúvidas.
Eu aprecio os seus trabalhos acerca de cultura, de história. Estes não aprecio. Porque TODOS os "actores" são culpados. Não há inocentes. Não vale a pena tomar partido.
Cumprimenta,
ao
Também não posso deixar de a informar que o senhor milhazes é um infeliz. Acordou tarde constatando que passou os "melhores" anos da sua vida numa mentira: URSS.
ResponderEliminarDeve ser tramado quando um velho percebe que foi enrolado anos a fio.
Cumprimenta