06 setembro 2022

Regresso a Praga (II)



Já aqui abordei este tópico. A cidade mais feia do mundo pode parecer-nos belíssima num momento de enorme felicidade? E a cidade mais bonita pode surgir-nos como horrível num momento de enorme infelicidade? Há algum nexo causal entre o estado interior e a beleza de um local? Não sei, não me lembro de alguma vez ter passado por essa experiência

Cheguei ontem da minha quarta viagem a Praga, como já aqui referi. A informação estatística não tem um propósito vaidoso ou apenas pateta. Serve apenas para evidenciar um ponto de fascínio que se mantém. Em 1982, quando a visitei pela primeira vez, classifiquei-a como a mais bonita cidade do mundo. Viviam-se ainda os tempos da Cortina de Ferro. Quando lá voltei, no princípio dos anos de 2000 – já num momento político totalmente diferente – confirmei a minha apreciação inicial. Em 2019, o carácter de serviço da viagem não me permitiu conformar a impressão, já que passeei pouco e estava focado noutras prioridades mentais. A viagem de agora permitiu confirmar a minha primeira impressão, já com 40 anos.

A classificação de “cidade mais bonita do mundo”, em não havendo critérios muito objectivos ou um júri que faça a apreciação, é totalmente pessoal. Eu elegi Praga, como outros elegerão Paris, Budapeste, Rio de Janeiro ou Lisboa. O que me fascina em Praga? A escala humana da beleza. O passeio por Praga não esmaga, isto é, não há uma profusão enorme de palácios magníficos e imponentes, não há uma sucessão esmagadora de peças arquitectónicas de grande volume. O que me agrada em Praga é, repito, a escala humana. Uma beleza e um equilíbrio muito acessíveis aos olhos e ao intelecto; uma conjugação equilibrada de estilos diferentes mas harmónicos, um enquadramento fantástico com o rio. Uma cidade macia o suficiente, rugosa o suficiente. A cidade mais bonita do mundo... 

JdB

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