Praga, Setembro de 2022 |
Afiançam-me que o provérbio é alentejano: à mesa não se envelhece. Agustina Bessa-Luís, numa caracterização do nosso colonialismo, afirmou que ao português, ao contrário dos franceses ou dos ingleses, não lhe interessava impor nada, mas apenas estabelecer entrepostos.
Há, entre o provérbio alentejano e a caracterização agustina, uma similitude evidente, que assenta num elemento que lhes é comum: a conversa. Ao alentejano, homem sabedor
(a sesta é uma prova de grande sabedoria, mais do que de grande preguiça)
não lhe ocorre dizer que a comer não se envelhece. Mas sabe que à mesa se conversa, e é essa actividade que previne o envelhecimento. Por outro lado, para além de acharmos que é o sorriso que estabelece o comércio entre as pessoas, é a conversa que promove os negócios e suscita as soluções. A criação de um entreposto é a edificação de um centro de conversas. Uma negociação é um diálogo, não um combate. Nada cai pior ao dono de um entreposto do que um negociante muito avaro ou muito perdulário. Mais do que a alienação de um artigo de inventário, ao comerciante interessa a barganha.
Neste sentido, estar à mesa ou ser dono de um entreposto são actividades iguais, porque implicam a conversa. A conversa é o sorriso dos mudos, é a dança dos que não sabem agitar-se, é o abraço dos que vivem distantes. A conversar ninguém envelhece.
JdB
Um texto alegre, engraçado, verdadeiro. Daqueles que enriquecem um site.
ResponderEliminarAbraço