31 outubro 2022

Das frases importantes *

Concedei-nos, Senhor, a serenidade necessária para aceitar as coisas que não podemos modificar, coragem para modificar aquelas que podemos e sabedoria para distinguir umas das outras.
Reinhold Niebuhr
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Estou certo de que alguns dos meus fiéis leitores (nem que seja um...) conhecerá a frase acima, também conhecida como a oração da serenidade.  Cruzei-me com ela enquanto coleccionador de frases alheias, mesmo sabendo que uma boa citação pode não ser mais do que a defesa do ignorante. Mas fixei-a, e voltei mais tarde a ouvi-la em conversas que sempre me acrescentam valor. Não pretendo espantar ninguém com a originalidade da citação, apenas reproduzi-la para eventuais fins de memória futura.
Os escaparates das livrarias estão cheios de livros de auto-ajuda: a fé que salva, a esperança que determina, o deus que nos atende os telefonemas, as dietas do espírito, os alimentos que repõem as energias perdidas.  E no entanto, estou em crer que bastava esta frase para salvar os destroços em que nos tornamos ou, melhor ainda, para prevenir os naufrágios que provocamos ou de que somos vítimas. Alguém disse, não sei quem nem onde nem quando, que a felicidade não era mais do que a gestão das expectativas. Sim, sim, é verdade. E parece-me que este pensamento de autoria desconhecida e a frase de Reihold Niebuhr casam bem – como o pastel de nata e a canela, ou mesmo como o salmão e o endro.
Se alguém acha que dominar os pontos de açúcar é uma actividade complexa, que requer competências menos corriqueiras, é porque nunca manteve relações afectivas, quaisquer que sejam elas. É por isso que gostaria que alguém fizesse chegar aos ouvidos do ministro de educação este meu post. Esqueçam a divisão de orações d’ Os Lusíadas, actividade que, não só não tem interesse, como mata a diminuta ligeireza da obra; esqueçam a alteração da ideia de complemento directo para outra coisa qualquer; esqueçam a educação sexual, porque um cidadão educado não fala de sexo. Esqueçam tudo e ensinem, à custa de violência psicológica, subornos na forma de chocolates ou promessas incumpríveis, que quase tudo o que interessa saber sobre relações afectivas se resume àquela frase, toda assente em discernimento e força.
Há quem diga para telefonarmos que ele (Ele?) atende. Eu já tentei e consegui – a resposta que me veio lá de cima foi a frase do Niebuhr.
JdB
* publicado originalmente a 30 de Janeiro de 2015

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