29 março 2023

Vai um gin do Peter’s ?

MAIS HORIZONTE ALIANDO CIÊNCIA E FÉ  

Investigações da ciência confirmam o mistério denso de realidades aparentemente experimentáveis e totalmente observáveis mas, afinal, difíceis de caber numa definição simples. Exemplo disso é a luz, cuja definição semi paradoxal para acumular estranhas camadas, beneficiou muito com a solução salomónica encontrada por Einstein. O grande físico concluiu que os dois conceitos comummente associados à luz são ambos válidos, ora prevalecendo uma interpretação, ora a outra, conforme o ângulo de observação. Assim, a luz mostra-se como onda e noutras circunstâncias como partículas. A dupla definição ou a dupla imagem para a descrever, evidencia que se trata de meras aproximações a uma realidade que permanece profundamente misteriosa – como observou Einstein – havendo muito mais por desvendar do que o pequeno vislumbre apanhado pela ciência. 

Nesta aproximação à Semana Santa, uma curta-metragem norte-americana sobre as afinidades (isso!) complementares entre fé e ciência torna-se especialmente interpelativa. Nenhuma se anula, antes se completam, permitindo ampliar o horizonte do conhecimento e até do entendimento humanos. Einstein reconheceu esta complementaridade, descortinando nos avanços da ciência, avanços e provas sobre a existência de um ser Criador omnipotente, omnisciente, expoente de toda a existência, que se esmerou a criar um universo incrivelmente fascinante. 

No país da indústria cinematográfica, também esta curta-metragem é profissional, apesar de não pertencer ao circuito comercial de Hollywood, afirmando-se como obra do cinema independente do Novo Mundo. Com profissionalismo e cumprindo os direitos de propriedade defendidos na cultura Ocidental, nada corre anonimamente, quando há um mínimo de contributo a reclamar, por ínfimo que seja. Por isso, a ficha técnica demora – ou melhor – merece  rodar por vários minutos, constituindo quase um terço do tempo total (15 min.)!  No início, o nome da equipa realizadora «Word on Fire» revela ao que vem, intitulando o filme de «WONDER – THE HARMONY OF FAITH & SCIENCE». 

Depois das magníficas gravuras antigas que servem de fundo à ficha técnica inicial, sinalizando bem que o argumento tem forte raiz histórica, a imagem inaugural do filme arranca  com a imensidão do oceano, cenário ideal para mergulhar numa das maiores afinidades entre um mundo e o outro, para percorrermos o paralelismo similar nas investigações de cada um destes universos. Quantas realidades mais intrincadas são abordadas e explicadas através de um jogo de paradoxos, essencial para a aproximação possível à quadratura do círculo? Significativamente, fica também o aviso de que o paradoxo não nasce do que se desconhece, mas antes do que está ao alcance humano fazer para conhecer mais e melhor: «Light from Light: SCIENTIFIC ENIGMAS AND THEOLOGICAL MYSTERIES». 

Do lado da ciência, serve de exemplo o estudo da luz física e, menos aprofundadamente, também o da matéria. Do lado da teologia, avança-se com o mistério da Santíssima Trindade e também com um dos atributos de Deus – luz do mundo. No fluir do filme, acaba por se perceber as interligações entre a luz física e a luz que Cristo afirmou ser, num entrecruzar e acumular de abordagens entre a ciência e a fé para benefício mútuo. Enquanto duas leituras paralelas de uma mesma realidade, são equiparáveis às diferentes vertentes que conduzem ao cume do Evereste, onde a North Face é simplesmente mais badalada por ser a mais utilizada pelos alpinistas, pelo menor risco que envolve. Esta fórmula de win-win, bem ao gosto norte-americano, demonstra quanto o enriquecimento do saber sobre a luz física também melhora a percepção possível sobre a SS.ma. Trindade. 

A realização cabe a Manny Marquez, o argumento a Christopher Baglow com versão adaptada ao ecrã por Matthew Becklo, banda sonora original fantástica, assinada por Sean Beeson, locução impecável de Jonathan Roumie. E isto é só uma pequena amostra do enorme trabalho de equipa aqui espelhado:

    

Talvez a melhor síntese do sentido do argumento seja oferecida por Raztinger, citado quase no final: «What is true here in the physical realm, is true in an incomparable greater degree of the spiritual realities and of God. Only by circling around, by looking and describing from different apparently contrary angles can we succeed in alluding to the Truth, which is never visible to us in totality. Here, science and faith meet in humility, in awe and in wonder

Nesta contagem decrescente para a madrugada mais luminosa do ano, com o regresso do Crucificado à vida, redescobrir o fascínio da Criação é um óptimo convite a aguçarmos o olhar para a redescoberta da luz pascal. 

Maria Zarco
(a preparar o próximo gin tónico, para daqui a 2 semanas) 

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