12 abril 2023

Vai um gin do Peter’s ?

 LEQUES LINDOS  

Sempre decorativos e com lastro histórico, os primeiros leques surgem representados em baixos relevos na arte egípcia. Nas cortes dos faraós impressionam as cenas de pajens com leques de grandes penas a refrescar os senhores. Eram um luxo especialmente adequado para atenuar o calor asfixiante das terras desérticas, mas serviam igualmente para exibir o estatuto e a riqueza dos poderosos aos seus visitantes. 

Leques na arte dos faraós.

À Europa, este artefacto decorativo e útil veio da China, trazido pelos descobridores portugueses do Império do Meio, sendo atribuída aos jesuítas esta importação para o Velho Continente, a partir do primeiro quartel do século XVI. Quando a moda se espalhou pela Europa, impulsionada pela corte francesa de Luís XIV, a partir do século XVII, Cantão e Macau impuseram-se como hubs de comércio e de fabrico de leques. 

Embora o estilo oriental tenha persistido na decoração destas peças, à medida que o seu uso se democratizou (em parte) pelas cidades europeias, observou-se uma adaptação à estética ocidental, passando a ser reproduzidas cenas palacianas do Ocidente. Já o recurso a materiais nobres e leves, a par do aspecto requintado mantiveram-se, tornando-o num complemento relevante do traje feminino, em especial de gala. Com a chegada dos europeus a outras latitudes, a moda dos leques estabeleceu-se também noutras paragens. Assim aconteceu com o Brasil, durante a estadia da família real portuguesa, no início do século XIX.

Leque comemorativo da independência do Brasil. Constituído por 21 varetas com madrepérola e incrustações em prata. Ao centro, o retrato de D.Pedro I do Brasil e IV de Portugal, encimado pela coroa imperial. 

Por seu turno, o efeito decorativo do leque converteu-o também em bibelot, colocado aberto em caixas de vidro para enfeitar paredes ou cómodas ou consolas. Até o seu forte potencial coreográfico foi aproveitado, surgindo como adereço de danças regionais e do ballet clássico, onde o flamengo é paradigmático e especialmente vistoso. 

Como bom coleccionador, Medeiros e Almeida incluiu no seu acervo um conjunto de quase duas dezenas de leques de origem chinesa (e muitos mais de proveniência europeia), que vão estar em exposição no Museu do Oriente. Aquela mostra intitula-se «Na senda dos leques orientais» e inaugura amanhã, às 18h30, ficando patente ao público até 10 de Setembro. Como aperitivo, seguem exemplos de peças da Fundação Medeiros e Almeida, incluindo algumas de estilo ocidental (que se mantêm na Fundação da rua Rosa Araújo): 

Leque de cabecinha

Materiais ricos são convocados, como ouro, prata, marfim, madrepérola, tartaruga, seda, renda, além de pinturas ornamentais sobre papel


Nos frequentes desencontros entre o calendário litúrgico ortodoxo e o da demais Cristandade, esta semana já é pascal para católicos e protestantes, enquanto no culto ortodoxo decorre a Semana Santa. Talvez um dia, possamos celebrar sempre em conjunto esta festa maior, recuando à unidade anterior ao grande Cisma do Oriente (em 1054). Só quando voltarmos à plena comunhão, deixaremos de ficar reduzidos às 3 ou 4 coincidências, por século, em que os calendários pascais são semelhantes.    

Páscoa luminosa a todos os que viveram o Domingo da Ressurreição! 

Maria Zarco
(a preparar o próximo gin tónico, para daqui a 2 semanas)

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