ARTE DO SANTO SEPULCRO NA GULBENKIAN
Com boa antecedência, aqui vai o pré-anúncio da exposição «O Tesouro dos Reis. Obras-primas do Museu da Terra Santa», que estará em exibição na Gulbenkian a partir de 10 de Novembro e até 26 de Fevereiro de 2024.
Pela primeira vez, viajarão para Lisboa peças do Museu da Terra Santa em Jerusalém, da Custódia da Terra Santa, do Patriarcado Arménio de Jerusalém, do Museu George Al-Ama em Belém. Serão complementadas com peças nacionais alusivas ao tema, cedidas por Museus e Bibliotecas portugueses.
O acervo do Museu da Terra Santa reúne cinco séculos de doações feitas por monarcas católicos europeus aos Lugares Santos, em especial à Basílica do Santo Sepulcro, onde Jesus encontrou a morte. Do Tesouro do Santo Sepulcro virão para Lisboa 75 peças.
A beneficência de reis e de cortes da Europa confirmava a devoção dos doadores, além de lhes dar prestígio internacionalmente, como acontece hoje com os patrocinadores das causas que movem o nosso tempo. Nas palavras do director do Museu Gulbenkian, António Filipe Pimentel, trata-se de um «acervo incrível de peças extraordinárias que, para além do aspeto religioso e do significado estético, tem também o significado histórico e político. Durante séculos a Terra Santa funcionou como grande teatro da diplomacia internacional, é o local onde as próprias cortes rivalizavam em ofertas para que se repercutissem nas cortes europeias».
Na longa lista de doadores sobressaem Filipe II de Espanha (I de Portugal), o Rei-Sol Luís XIV, D.João V de Portugal, Carlos VII de Nápoles, a Imperatriz Maria Teresa de Áustria, igualmente generosos nas somas avultadas destinadas ao sustento dos Lugares Santos e das comunidades locais. As dádivas artísticas mais frequentes traduziam-se em peças de arte sacra em ourivesaria, pintura, escultura e também têxteis e mobiliário. No caso português, os presentes estendiam-se ainda a bálsamos, perfumes, especiarias e chá vindos do Império Ultramarino.
Em exposição estarão presentes portugueses artísticos como a lâmpada de igreja oferecida por D.João V, a mitra doada por D. Maria I, a bacia lava-pés de prata doada por D.Pedro II (regente, em 1668 e depois rei a partir de 1683) e usada pelo custódio da Terra Santa no acolhimento aos peregrinos que chegavam à Cidade Santa. De Carlos VII de Nápoles estará o esplendoroso baldaquino para suporte de custódia ou de crucifixo.
Pormenor da coroa no topo do baldaquino oferecido por Carlos VII de Nápoles. |
No extremo esquerdo: o famoso baldaquino oferecido por Carlos VII de Nápoles. |
O vínculo de Gulbenkian à Terra Santa estará simbolizado no magnífico manuscrito arménio, do século XV, rico em iluminuras, oferecido pelo próprio Calouste ao Patriarcado Arménio de Jerusalém, nos anos 40. Naquela altura, o famoso colecionador de origem arménia vivia entre Lisboa e Paris, embora tivesse sido nado e criado na Turquia, onde esteve (Istanbul) até aos 14 anos.
Em 2023, a magnanimidade do fundador do Museu Gulbenkian repete-se e actualiza-se também pelo trabalho de restauro e de estudo prévio a muitas das peças cedidas por Jerusalém, para lhes restituir o brilho original. O catálogo da exposição propõe-se incluir o historial das peças.
Depois de Lisboa, a segunda paragem desta exposição itinerante será a Frick Collection em Nova Iorque, seguindo-se outras capitais europeias, até terminar o périplo no novo Museu da Custódia, em Jerusalém.
A partir de Novembro, a capital portuguesa exibirá nas melhores condições preciosidades de reis magnânimos, que irão depois chegar à Cidade Santa devidamente restauradas. É caso para reconhecer que a Fundação preserva o melhor de Calouste!
Bom trabalho.
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