Já a banhos, longe de Lisboa, continuo a sentir os ecos extraordinários destas JMJ nas conversas no toldo ou nos cafés de praia, com testemunhos tocantes de uns e de outros, à cabeça dos miúdos mais ‘improváveis’. Já nem se fala do repertório cantado ao som de guitarras pelos coros de gente nova que animam as Missas nas capelas e igrejas das estâncias balneares da nossa costa atlântica. O hino das JMJ irrompe em apoteoso no final. Acto contínuo, os mais novos começam a marcar o ritmo com os braços e umas palmas certeiras, numa desinibição incomum para o estilo contido português, que se deixou embalar pela animação exuberante dos milhares de espanhóis e de franceses, que encheram as ruas da capital lusa.
A beleza de Lisboa também proporcionou um cenário privilegiado a momentos importantes das JMJ, em concreto no Parque Tejo, onde as cores do poente e do nascer do sol ofereceram enquadramentos mágicos àquela multidão imensa e mansa que se reuniu na orla leste da capital.
Na audiência papal, pós JMJ, já no Vaticano, Francisco fez o seguinte balanço das Jornadas:
«VIAGEM APOSTÓLICA A PORTUGAL POR OCASIÃO DA JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE
Estimados irmãos e irmãs, bom dia!
Nos últimos dias fui a Portugal para a 37ª Jornada Mundial da Juventude.
Esta JMJ de Lisboa, que veio depois da pandemia, foi sentida por todos como dom de Deus, que voltou a colocar em movimento os corações e os passos dos jovens, muitos jovens de todas as partes do mundo – muitos! – para se encontrarem e encontrar Jesus.
A pandemia, como bem sabemos, incidiu gravemente nos comportamentos sociais: muitas vezes o isolamento degenerou em fechamento, e os jovens foram particularmente atingidos. Com esta Jornada Mundial da Juventude, Deus deu um “empurrão” na direção oposta: marcou um novo início da grande peregrinação dos jovens pelos continentes, em nome de Jesus Cristo. E não foi por acaso que se realizou em Lisboa, uma cidade virada para o oceano, cidade-símbolo das grandes explorações marítimas.
Assim, na Jornada mundial da juventude o Evangelho propôs aos jovens o modelo da Virgem Maria. No momento mais crítico para ela, [Maria] vai visitar a sua prima Isabel. Diz o Evangelho: «levantou-se e partiu apressadamente» (Lc 1, 39) gosto muito de invocar Nossa Senhora sob este aspeto: Nossa Senhora “apressada”, que sempre faz as coisas apressadamente, nunca nos faz esperar, pois Ela é a mãe de todos. Assim hoje, no terceiro milénio, Maria guia a peregrinação dos jovens no seguimento de Jesus. Como fez há um século em Portugal, em Fátima, quando se dirigiu a três crianças, confiando-lhes uma mensagem de fé e de esperança para a Igreja e para o mundo. Por isso, na JMJ, voltei a Fátima, ao lugar da aparição, e juntamente com alguns jovens doentes rezei para que Deus cure o mundo das doenças da alma: soberba, mentira, inimizade, violência – são doenças da alma e o mundo está doente destas enfermidades. E renovámos a nossa consagração, da Europa, do mundo ao Coração de Maria, ao Imaculado Coração de Maria. Rezei pela paz, pois há muitas guerras em todas as partes do mundo, demasiadas.
Os jovens de todo o mundo foram a Lisboa muito numerosos e com grande entusiasmo. Encontrei-me com eles inclusive em pequenos grupos, e alguns com muitos problemas; o grupo dos jovens ucranianos traziam histórias que eram dolorosas. Não eram férias, nem uma viagem turística e muito menos um evento espiritual por si só; a Jornada da juventude é um encontro com Cristo vivo através da Igreja. Os jovens vão encontrar Cristo. É verdade, onde há jovens há alegria e um pouco de todas as coisas.
A minha visita a Portugal, por ocasião da JMJ, beneficiou do clima festivo dela, onda de jovens. Dou graças a Deus por isso, pensando sobretudo na Igreja de Lisboa que, em troca do grande esforço feito para a organizar e acolher, receberá novas energias para prosseguir o novo caminho, para lançar de novo as redes com paixão apostólica. Os jovens em Portugal já são uma presença vital, e agora, depois desta “transfusão” recebida das Igrejas de todo o mundo, tornar-se-ão ainda mais. E muitos jovens, no regresso, passaram por Roma, estou a vê-los também aqui, há alguns que participaram nesta Jornada. Ei-los! Onde estão os jovens há barulho, sabem fazer isto bem!
Enquanto na Ucrânia e noutros lugares do mundo há combates, e enquanto em certos salões escondidos se planeia a guerra – isto é terrível, planear a guerra! – a JMJ mostrou a todos que outro mundo é possível: um mundo de irmãos e irmãs, onde as bandeiras de todos os povos flutuam juntas, lado a lado, sem ódio, sem medo, sem fechamentos, sem armas! A mensagem dos jovens foi clara: será ouvida pelos “grandes da terra”? Pergunto-me, ouvirão este entusiasmo juvenil que deseja paz? É uma parábola para o nosso tempo, e ainda hoje Jesus diz: «Quem tem ouvidos, ouça! Quem tem olhos, veja!». Esperemos que todo o mundo escute esta Jornada da Juventude e olhe para esta beleza dos jovens indo em frente.
Expresso novamente a minha gratidão a Portugal, a Lisboa, ao Presidente da República, que esteve presente em todas as celebrações, e às demais Autoridades civis; ao Patriarca de Lisboa – que trabalhou muito bem! – ao Presidente da Conferência Episcopal e ao Bispo coordenador da Jornada mundial da juventude, a todos os colaboradores e voluntários. Pensai que os voluntários – encontrei-me com eles no último dia, antes de voltar – eram 25 mil: esta jornada teve 25 mil voluntários! Obrigado a todos! Por intercessão da Virgem Maria, Senhor abençoe os jovens do mundo inteiro e abençoe o povo português. Peçamos juntos a Nossa Senhora, todos juntos, para que Ela abençoe o povo português.»
Um padre ainda novo, que apenas foi ordenado no final de Maio, em Roma – Jorge Oliveira – editou uma colectânea gira (em anexo // segue como 3º anexo) sobre o papado de Francisco e sobre as Jornadas. Está organizada por temas e inclui um leque amplo de Assuntos, que dão a conhecer facetas interessantes e menos badaladas do Papa argentino.
https://www.dropbox.com/t/z9LSh4IVQHLmd76h
Nestas Jornadas abençoadas, Francisco pediu uma Igreja aberta a todos, todos, todos (que não equivale a ‘tudo, tudo, tudo’), por uma Europa respeitadora da sua herança judaico-cristã e implorou pela paz: «Muitos de vós vão em peregrinação a Jasna Góra (Polónia) e a outros santuários marianos, por isso confio-vos um desejo que trago no coração: o desejo de paz no mundo (…). Rezai por este dom inestimável, especialmente pela amada e atormentada Ucrânia.» Durante o encontro com peregrinos ucranianos sintetizou o objectivo das JMJ para todos os participantes, na senda do que sonhara o Papa S.João Paulo II, quando as lançou, em 1986: «não é uma viagem de férias, uma viagem turística, mas um encontro com Cristo», especialmente evidente pela coragem e pelo esforço que implicara a deslocação daquele grupo e de vários outros, atingidos pela Guerra, pela perseguição religiosa e pela extrema pobreza. Foi impressionante saber que todos os países tiveram participantes, com a pequena excepção das Maldivas.
O Papa partilhou ainda o alcance da oração a irmanar-nos como membros da grande família humana: «A oração ilumina os meus olhos para saber olhar os outros como Deus os vê, para amar os outros como Ele os ama. Em Seu nome, venho até vós na alegria de partilhar convosco o Evangelho da esperança e da paz.»
Na sua visita a Fátima, para o que definiu como «um encontro na casa da Mãe», deixou esta mensagem: «Formando nós um só coração e uma só alma, entregar-vos-ei, todos, a Nossa Senhora para segredar a cada um: 'o meu Imaculado Coração será o teu refúgio e o caminho que te conduzirá até Deus'. (…) A oração ilumina os meus olhos para saber olhar os outros como Deus os vê, para amar os outros como Ele os ama. Em Seu nome, venho até vós na alegria de partilhar convosco o Evangelho da esperança e da paz.» Aliás, foram umas Jornadas marcadas por uma forte presença mariana e as mães fazem sempre a diferença...
Quem teve o privilégio de acompanhar as JMJ, confirmou que quando se desperta a presença de Deus Pai no coração humano, o sentido da fraternidade torna-se palpável: «(…) a JMJ mostrou a todos que um outro mundo é possível: um mundo de irmãos e irmãs» pois o Pai Comum mostra-nos os outros como irmãos! Esse foi dos principais dons do Papa, ao trazer a Paternidade do Céu aos corações de um milhão e meio de gente de boa vontade e de fé (a maioria), permitindo-nos reconhecer os outros como o nosso próximo. Que JMJ memoráveis!
(a preparar o próximo gin tónico, para daqui a 2 semanas)
Eu e a hierarquia da Igreja Católica temos um problema há umas dezenas de anos. Embora com uma séria formação católica, afastei-me. Não digo bem, nem mal e respeito, muito. Aprendi outras dimensões da espiritualidade e da fé que são muito minhas e que normalmente não partilho. No entanto, eu que nem tinha este papa em grande conta, de repente fiquei algo fascinado. Não só o que ele diz faz sentido, mas, pelos vistos, há milhares de jovens que, independentemente do seu dia a dia, melhor ou pior nas acções, partilham as ideias e os princípios com um espírito que há muito não via. Foram milhares, aqueles com que me cruzei à porta de casa (Parque das Nações, portanto), sempre com um sorriso, sempre com uma energia e uma alegria contagiantes. Não participei nas cerimónias, mas, com gente assim, a responsabilidade subiu e muito para a nomenclatura católica. Espero que não desperdicem o fôlego que lhes foi concedido com estas JMJ. A criança do vídeo é fabulosa… com aquele ar "meio sindicalista", cuidem-se os mais incrédulos. Abraço.
ResponderEliminarMuito obrigada pelo seu testemunho tão verdadeiro, tão profundo e tão pessoal. Foi, de facto, um privilégio termos acolhido em Lisboa mais de um milhão de gente nova em modo bondoso, civilizado, universal. Todos cabiam. Abraço
ResponderEliminar