30 outubro 2023

Excertos dos dias que correm

(...)

CARDEAL DE MONTMORENCY Ao CARDEAL GONZAGA, que pensa, em êxtase:  

A Eminência que diz?  

CARDEAL RUFO, acercando-se também  o CARDEAL GONZAGA  

Em que pensa, cardeal?  

CARDEAL GONZAGA, (como quem acorda, os olhos cheios  de brilho, a expressão transfigurada)

Em como é diferente o amor em Portugal!  
Nem a frase subtil, nem o duelo sangrento...  
é o amor coração, é o amor sentimento.  
Uma lágrima... Um beijo... Uns sinos a tocar...  
Uma parzinho que ajoelha e que vai se casar.  
Tão simples tudo! Amor, que de rosas se inflora:  
Em sendo triste canta, em sendo alegre chora!  
O amor simplicidade, o amor delicadeza...  
Ai, como sabe amar, a gente portuguesa!  
Tecer de Sol um beijo, e, desde tenra idade,  
Ir nesse beijo unindo o amor com a amizade,  
Numa ternura casta e numa estima sã,  
Sem saber distinguir entre a noiva e a irmã...  
Fazer vibrar o amor em cordas misteriosas,  
Como se em comunhão se entendessem as rosas,  
Como se todo o amor fosse um amor sòmente...  
Ai, como é diferente! Ai, como é diferente!  

(...)

Júlio Dantas in A Ceia dos Cardeais

 

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