Num Instagram (creio que de Novembro de 2023) que mão amiga me enviou na semana passada, Enrique Rojas (espanhol, professor catedrático de Psiquiatria e Psicologia Médica) elenca 7 conselhos para se atingir a felicidade. São eles (de forma sucinta):
- Curar as feridas do passado; reconciliação / perdão a si próprio;
- Ter um bom equilíbrio entre razão e coração;
- Ter uma visão positiva das coisas; ter a capacidade de ver tudo por um ângulo bom;
- Ter uma vontade bem orientada;
- Ter um projecto de vida assente em quatro pilares: amor, trabalho, cultura e amizade;
- Ter paz interior (que varia em função da fase de vida em que estamos);
- Ter ilusões - desafios, planos e objectivos para cumprir.
- O gosto de viver;
- A afeição
- A família
- O trabalho
- Os interesses pessoais
- Esforço e resignação
Não pretendo comparar nem avaliar quem, de entre Rojas e Russell, tem (mais) razão. Separa-os 100 anos e, seguramente, um olhar diferente sobre a realidade em que viveram. Talvez Russell seja mais sucinto, e os seus argumentos não se afastem tanto dos de Rojas - ou haverá, seguramente, pontos de intersecção.
Os conceitos de felicidade mudam seguramente e têm uma dimensão pessoal muito grande. Hoje fala-se mais em viver o dia a dia, no imperativo de se estar bem consigo próprio (li no outro dia alguém que tinha uma assinatura a seguir ao seu nome que era, não afianço o ipsis verbis, és a melhor amiga de ti própria). Talvez o conceito de felicidade de hoje (ou o que é mainstream) tenha uma dimensão mais individualista, mais assente no prazer próprio do que no olhar para o próximo. A metáfora da máscara de oxigénio num avião é, nesse sentido, poderosa - primeiro pomos a máscara em nós próprios, só depois a colocamos nos outros.
Haverá quem tenha a tentação de achar que cumpre todos os conselhos de Rojas, e haverá quem tenha a tentação de afirmar que o outro não é nem pode ser feliz porque não satisfaz determinado requisito. Ninguém, suponho eu, faz o pleno em todos os 7 conselhos. Todos temos áreas onde somos mais fortes e áreas onde somos menos fortes. E foi na sequência deste instagram que dei por mim a pensar e a conversar sobre o desejo de ter paz interior. E o que é isso de paz interior?
Assumamos que somos seres gregários e que a convivência com os outros - sejam familiares, amigos ou colegas de emprego ou de outras actividades - é factor primordial para um saudável equilíbrio interior. Afinal, é através dos outros que nos conhecemos e que afinamos o nosso próprio caminho e forma de ser e agir; as nossas características - defeitos e qualidade - são relacionais. Numa ilha isolada, Robinson Crusoe não é generoso, nem egoísta, nem preguiçoso, nem altruísta. Nesse sentido, a procura de paz interior é fatalmente conseguida através da interacção com os outros e a adaptação a um meio envolvente. Podemos dizer que atingimos paz interior ao limitar a nossa interacção com os outros a um mínimo possível? Um motor parado é, forçosamente, um equipamento onde não existe atrito?
Seja seguindo os conselhos de Rojas, seja seguindo as ideias de Russell, a ideia de felicidade só se atinge, em condições não excepcionais, se incluirmos o Outro na equação. A vida em isolamento - total ou parcial - suscita uma paz interior não verdadeira, assente numa ausência. Não se vê um ângulo bom até se partilhar essa visão com o outro; não se tem um bom equilíbrio entre razão e coração se não houver interacção. Noutra perspectiva, a paz interior é aquela que se conquista depois do labor relacional, não aquela que se imagina ter por ausência de partes em interacção.
JdB
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