07 março 2024

De uma ida a Olivença

 

A convite de pessoas que me são próximas, voltei a Olivença este ano, desta vez para assistir a 3 corridas - uma das quais uma novilhada, de cujo cartel fazia parte um português chamado Tomás Bastos. 

Ir aos toiros a Olivença é fazer uma espécie de peregrinação sem promessas, mas com desconforto. Começo pelo desconforto. 

Na verdade, só lá vai quem gosta muito: a praça é acanhada, num bocado de pedra (onde nos assentamos) onde nem um rabo cabe, tem de caber um rabo mais os pés da pessoas que está a trás de nós. A estática e os movimentos - os nossos, os dos que estão à nossa frente e os dos que estão atrás de nós - têm de ser síncronos, isto é, temos de abrir as pernas para que o vizinho da frente se encaixe, temos de confiar que a pessoa atrás de nós abra as pernas, para que nós próprios nos encaixemos. Quando nos levantamos, convém que todos o façam em simultâneo, para não haver desequilíbrios. 

Uma corrida de toiros é um espectáculo a que se deve assistir em silêncio, para permitir a concentração de toiro e toureiro. No entanto, há pessoas que falam, que gritam, que desconcentram os intervenientes. Há os que o fazem por ignorância, há os que o fazem por excesso de álcool no sangue.

O reverso da medalha deste desconforto é a convivência com uma certa tribo, como se fossemos todos iguais nesta peregrinação a um local de devoção. As pessoas perguntam-se de onde são (metade dos espectadores são portugueses) fazem graça com isso. Um local à nossa frente ofereceu-nos vinho, queijo e chouriço, o outro disponibiliza um chapéu de chuva. Fazemos todos parte de uma certa irmandade que suporta o frio, a chuva e o desconforto em nome de um espectáculo que faz parte de uma cultura, seguramente, mas que está longe de ser popular. Quem lá vai é aficionado, companheiro da mesma peregrinação.

Para mim, o reverso da medalha do desconforto (dois conhecidos portugueses compraram três bilhetes para ficarem mais à vontade) é, também, o ritual inerente a uma corrida de toiros: a superstição, a forma de andar ou de colocar o queixo, a maneira de atravessar a arena arrastando um capote, um sem número de pormenores que faz parte daquela festa, que empresta à coreografia que há em tudo um pormenor que nem sempre é percebido - ou valorizado.

 

Tal como referi acima, uma das corridas a que assisti era uma novilhada; isto é, não se tourearam toiros com 4 ou 5 anos, mas novilhos com 3 anos, com tudo o que isso representa de diferença em termos de peso e bravura. Falamos, no entanto, de animais com 400 e muitos quilos. Em Portugal um novilheiro tem de ter pelo menos 16 anos. Tomás Bastos, o novilheiro português que se estreou em Olivença com picadores, deverá ter 17 anos, a mesma idade dos seus colegas de cartel. 

Na fotografia, um deles a executar uma sorte de gaiola, que consiste em receber o novilho (ou toiro) assim que ele sai dos curros.  

JdB

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