17 fevereiro 2025

Em memória de Carlos Paredes

Carlos Paredes teria feito ontem 100 anos e era considerado por muitos (por todos?) o maior guitarrista português. Admito que sim, não tenho competência para tanto. Na minha ignorância musical sempre achei que ele era o Astor Piazzolla do fado: se eu quiser ouvir fado (e não apenas a guitarra portuguesa) não é ao Paredes que recorro; e se eu quiser ouvir tango (e não apenas o bandonéon) não é ao Piazzolla que recorro.  

Verdes Anos, talvez uma das suas obras mais conhecidas, foi composta em 1963 para o filme com o mesmo nome. O poema de Pedro Tamen, também com o mesmo nome, casa bem com a música. Infelizmente, não encontrei nenhuma versão cantada que fosse suficientemente do meu agrado, pelo que deixo apenas o texto.

JdB

***

Era o amor
que chegava e partia:
estarmos os dois
era um calor
que arrefecia
sem antes nem depois…
Era um segredo
sem ninguém para ouvir:
eram enganos
e era um medo,
a morte a rir
nos nossos verdes anos...

Teus olhos não eram paz,
não eram consolação.
O amor que o tempo traz
o tempo o leva na mão.

Foi o tempo que secou
a flor que ainda não era.
Como o Outono chegou
no lugar da Primavera!

No nosso sangue corria
um vento de sermos sós.
Nascia a noite e era dia,
e o dia acabava em nós…

O que em nós mal começava
não teve nome de vida:
era um beijo que se dava
numa boca já perdida. 

Pedro Tamen, in Retábulo das Matérias (1956-2001)

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