O que há de comum entre Namoro, uma música interpretada por Fausto Bordalo Dias (muito cá de casa, como se dizia dantes) e Bela Portuguesa, uma música interpretada por Marante, um cançonetista que nunca havia passado por este estabelecimento? E não, a resposta não é são ambas músicas...
Fausto canta a desdita de Benjamim na sua paixão por uma rapariga cujo nome nunca vem a saber-se. Benjamim manda-lhe uma carta em papel perfumado e ela diz que não; manda-lhe um cartão que o amigo Maninho tipografou e ela diz que não; manda-lhe um recado pela Zefa do sete e ela diz que não; pede um feitiço forte e seguro, e o feitiço falhou; oferece-lhe jóias, paga-lhe doces, afaga-lhe as mãos e fala-lhe de amor, e ela diz que não.
Já Marante assenta toda a sua canção num refrão forte, poderoso e ritmado:
És a linda portuguesa, com quem eu quero casar
Já corri mundo e não encontro outra igual com quem eu queira ficar
A mais formosa, mais gostosa das mulheres que Deus pode criar
A resposta à pergunta o que há de comum em ambas as músicas? poderia ser, então, esta ideia de procura da mulher desejada. A resposta não me satisfaria, gostava de atirar-me mais para fora de pé.
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Passei a noite de Sábado em Vila Real de Santo António, onde já tinha estado, por duas vezes, em 2007. Celebram-se, um pouco por toda a parte, aquilo a que no Brasil se chamam as festas juninas e aqui não foi excepção: um dueto composto por um cançonetista e um tocador de acordeão (com a prestimosa colaboração de um gingarelho que marca batidas diversas) animou, de cima de um palco, as largas dezenas de pessoas que se reuniram na bonita praça Marquês de Pombal e a dúzia de casais que se atiraram ao espaço para dançar.
Metade dos casais que bailaram eram compostos por duas mulheres: duas raparigas novas, duas senhoras mais de idade, algumas talvez irmãs, outras apenas amigas. Nalguns aspectos, o mundo está igual: como há 50 anos ou mais, as senhoras, à falta de parceiro masculino, atiram-se à pista, sem vergonha nem pudor, para dançar uma valsa, uma marcha, um arremedo de tango ou de de kudoro. É, no fundo, o que sempre foi nestes espectáculos mais populares onde o preconceito não entra.
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Volto à pergunta inicial: o que há de comum entre Namoro e a Bela Portuguesa? A resposta é simples: a redenção pela dança. A pista - ou o espaço indefinido onde se dançou - encheu-se com Marante a cantar a linda portuguesa com quem quer casar. Já Fausto termina de forma positiva a música que interpreta com maestria:
E num passo maluco voamos na sala
Qual uma estrela riscando o céu
E a malta gritou: Aí Benjamim!
Pedi-lhe um beijo
Lá-lá-láiá, ará-rá-lá
E ela disse que sim
Quando tudo o resto parece falhar, a dança redime-nos, seja para conquistar a rapariga com uma rumba, seja para dançar com quem nos dá mais gosto - ou que diz que sim.
JdB
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