13 agosto 2025

Vai um gin do Peter’s ?

 SEGREDO DO NOME DE BOMBONS MÍTICOS

Alba é uma pequena cidade de Piemonte, situada no Nordeste de Itália, linda como quase tudo em Itália, declarada património da UNESCO pela excelência gastronómica, região demarcada de vinhos famosos, trufas de primeira água e origem da próspera multinacional Ferrero S.A.  A criatividade, ousadia, e gratidão misturam-se na história da marca e da família Ferrero, mostrando quanto as pessoas fazem a diferença.  

Na Europa devastada pela Segunda Guerra Mundial, os irmãos Pietro e Giovanni Ferrero descobriram oportunidades, onde apenas parecia reinar pobreza e ruína. Herdeiros de uma pastelaria de sucesso, em Alba, empenharam-se em inventar uma receita, que aproveitasse a abundância de avelãs da região para criar uma iguaria acessível e deliciosa, numa altura em que o chocolate se tornara um luxo e a fome afligia grande parte da população. A proeza culinária coube ao artífice e artista dos dois – Pietro – que concebeu um creme de chocolate de preço muito acessível e uma consistência invulgarmente compacta, que recomendava o uso da faca para barrar o pão com o ‘Super Creme’. O truque para contornar o custo proibitivo do cacau residira na fórmula mágica de enriquecer o doce de avelã com a dose certa de cacau, para lhe dar cor e afinar o sabor. 

A pastelaria lendária dos Ferrero

O êxito do novo recheio para o pão, simultaneamente nutritivo e barato, levou os irmãos a criar uma marca própria, em 1946, com o nome de família – Ferrero – para comercializar um produto revolucionário, em larga escala. Se Pietro valia pelas façanhas culinárias, Giovanni era o génio do marketing e do negócio, que montou uma poderosa rede comercial, de Norte a Sul de Itália, para escoar melhor o Super Creme. 

Mal passara uma década sobre a Segunda Guerra, quando se aventuraram na internacionalização da produção familiar, abrindo uma fábrica no país mais destruído da Europa, mas também de maior tradição industrial – a Alemanha, dividida e em escombros. Dois anos depois, lançavam uma fábrica em França e não mais pararam de crescer além-fronteiras. 

Vinte anos depois, o novo CEO da Ferrero, filho de Pietro, arriscou reinventar a receita do Super Creme, para o modernizar e rebaptizou-o de Nutela. O resto é história, sobejamente conhecida. 


Slogan oficial: «O que seria o mundo sem a Nutela?»

Mantendo o ímpeto expansionista dos fundadores, quer em termos geográficos, quer na variedade de produtos, Michele Ferrero explorou novas combinações de texturas e de sabores de chocolate, misturados com avelã, para dar origem a outro segredo de sucesso – o bombom Ferrero Rocher, patenteado em 1982. Teve também o mérito de continuar fiel ao princípio-base da empresa, de oferecer produtos de alta qualidade com sabores originais e únicos, mas a preços muito acessíveis. 

O nome do bombom mais natalício do mundo – reconhecível pelo contorno irregular, que lembra um pedaço de rocha embrulhado em papel dourado enfaticamente amachucado – junta o apelido da família a uma referência subtil, indicada no termo francês ‘rocher’, para evocar a gruta rochosa onde Nossa Senhora apareceu em Lourdes, no ano de 1858. 

Formato evocativo da rocha de Massabielle, em Lourdes, situada no Sul de França, onde decorreram as Aparições a Bernardette Soubirous, em 1858.

Árvore de Natal formada por Ferrero Rocher, que enche Centros Comerciais e lojas, sobretudo em Itália.

Numa data mariana de relevo, como é o 13 de Agosto, celebrado na Cova de Iria e marco da construção do Muro de Berlim (em 1961), que materializou no coração da Europa o que profetizara a mensagem de Fátima sobre a brutalidade da ‘Cortina de Ferro’ (na expressão de Churchill), os Ferrero Rocher ajudam a festejar este dia e a antecipar um feriado mariano importante, a 15 de Agosto.

Na empresa de origem italiana é conhecida e explícita a devoção de Michele a Nossa Senhora, atribuindo-lhe o sucesso rotundo da marca e procurando homenageá-la através de sinais subtis, como a designação dos célebres bombons. Peregrino assíduo do Santuário de Lourdes, mandou colocar uma imagem de Maria nas fábricas do Grupo espalhadas pelo mundo.  

O marketing da Ferrero também explica parte do êxito da empresa, sempre criativo e capaz de levar cada novo produto (mais de 30) aos quatro cantos do mundo, marcando presença em 170 países. O crescimento meteórico dos ‘bombons rochosos’ revelou uma habilidade comercial que, nalguns casos, antecipou em anos os morosos processos de abertura política de países mais fechados. Um par de datas é eloquente: depois de conquistar a Europa, em 1982 e de aterrar nos EUA, logo em 1988, entrou na China em 1994 e na Rússia em 1996!

   

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Bem se aplica aos manos Ferrero a máxima romana de que ‘a sorte favorece os audazes’.  Todavia, menos óbvio e mais incomum é juntarem tamanho talento à criação de delicatessen apreciados universalmente, com especial sentido de gratidão. Vale-lhes também conseguirem preservar as receitas prodígio no segredo dos deuses. E já vão na terceira geração, com a quarta a aproximar-se.  

São sempre inspiradoras as pessoas criativas, mais ainda quando dotadas de sensibilidade humana e humanista, além de antevisão, que as impulsiona a gizarem soluções forjadoras de novidades boas, neste caso, deliciosas. Grande contributo dos Ferrero para a dolce vita

Maria Zarco
(a preparar o próximo gin tónico, para daqui a 2 semanas)

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