Queridos leitores,
Escrevo-vos perante a estupefacção de algumas pessoas (o pudor impede-me de referir o número) que se confrontarem com um blogue imutável durante dois dias. De facto, o problema do mundo é a comunicação. Se nalguns casos é a verbal ou a não verbal, neste caso vertente é a internática e / ou telefónica. 2ªfeira passada o mundo esteve isolado de parte importante de Harare. Foi, por isso, totalmente impossível actualizar o Adeus...
Poderia tê-lo feito no dia seguinte, dado que, no critério de importância de que se revestem os meus dias, o blogue está acima de (quase) tudo. O que acontece, fiéis amigos (a expressão não é muito feliz - é como se vos chamasse bacalhaus) é que me dediquei, na 3ª e 4ª feiras, a actividades de somenos importância - fui viajar. Aonde?, perguntarão os curiosos. A Victoria Falls, pois então.
Gostaria de ilustrar a minha crónica de viagem com fotografias de rara beleza tiradas por um aprendiz cego de fotógrafo. O facto é que a rede internética continua rota nalguns locais, impedindo-me de o fazer tão brevemente quanto possível. No entanto, quem tiver boa memória, recordar-se-á, seguramente, das fotografias com que ilustrava a contagem decrescente, ainda em Portugal.
O cenário é magnífico, deslumbrante mesmo. Há quem diga que é uma cachoeirazinha, devido ao facto do período das chuvas ainda não ter começado e o caudal de água ser diminuto. Para quem, como eu, se confronta pela primeira vez com uma queda de água desta natureza (100 metros, pouco mais ou menos) tudo é fantástico. Imagino a cara do Dr. Livingstone (o tal que deu fama à expressão I presume...) quando as descobriu há mais de 150 anos.
Fazia parte da minha actividade turística em Victoria Falls um jantar no Boma, onde nos seriam servidos petiscos como javali, kudu, vermes, cerveja (intragável) bebida pela comunidade local por falta de dinheiro para mais, danças guerreiras locais, etc. Um programa totalmente turístico. Posso dizer-vos que confraternizei com uma inglesa, duas americanas e dois americanos gays, com quem travei o seguinte diálogo inicial que marcou o resto da janta:
- Hello, I'm João, and I'm portuguese.
- Uau! That's great (gosto muito da palavra awesome, que é sinónimo)! But from Spain or from Brasil?
(Silêncio revoltante, revoltado, enojado perante a incultura e ignorância de quem pretende governar o mundo e que desconhece que a homosexualidade é punível neste país).
- And where are you from?
- The States.
- Uau, that's great (continuo a preferir a palavra awesome)! But from Canada ou from Mexico?
Os jovens acharam graça, e o que me parecia ser o lider da equipa quis chapar comigo, o que fiz sem qualquer reserva mental.
Mais tarde voltei-me para uma das americanas que estava junto a mim (filha de uma espanhola e de um finlandês) e indaguei:
- Are these two gentleman (repare-se na fineza do tratamento) travelling with you?
Ela recuou vinte centímetros - mantendo, ainda assim, uma proximidade interessante - e disse:
- My God, no! They're gay...
Voltarei assim que possível, com fotografias tristes a ilustrarem uma crónica deprimente.
Temo que o seu regresso ao Monte Estoril torne as crónicas menos interessantes.
ResponderEliminarPai
Pois é, também acho... depois destas empolgadas descrições, a tugolândia vai parecer-lhe enfadonha, vizinho!
ResponderEliminarMas enfim, tentaremos animar as artes por cá...