‘The Tree of Forgiveness ’, 1882 (Edward Coley Burne-Jones)
Celebra-se hoje o segundo Domingo do Advento, e eu não esqueço a minha condição de Católico.
Fruto, talvez, de incapacidade própria, o meu Natal tem sido pouco diferente do da corrente dominante na sociedade: o consumismo mais ou menos exagerado, o desejo de que as festas acabem para voltarmos à pureza das dietas, a correria de pais para sogros, de cunhados para irmãos e vice-versa (o que torna a época festiva num cansaço confessado de quilómetros), os sacos de lixo acumulados com papel de fantasia que dão aos contentores um ar tristemente festivo, quando não obscenamente contrastante com a miséria e fome que nos rodeia.
Enredado na minha preguiça e no raciocínio mortal de que se pode fazer pouco para vencer hábitos enraizados, talvez não tenha conseguido mudar nada, a não ser a consciência de que tudo devia ser diferente, mais sossegado, mais intimista, menos exaustivo, menos propiciador de frases do tipo “se me apanho no dia 26 ainda julgo que é mentira”. O Natal – e perdoe-se o lugar-comum – está refém da moda e perdeu o encanto e a magia que os cristãos lhe queriam ou deviam ver. Não posso culpar ninguém, porque ao fazê-lo seria seguramente dos primeiros a subir o cadafalso.
Este texto de hoje é escrito tendo duas ideias no pensamento, e é dedicado a todos os que nele se revêem, incluindo eu próprio. Uma, foi-me despertada pelo texto magnífico com que o ATM nos brindou nesta última quarta-feira. A outra, é fruto de conversas que vou tendo, do que vou lendo, das minhas cogitações frente a um espelho ou a uma insónia. São por vezes raciocínios perigosos, porque provenientes de julgamentos sobre terceiros, apreciações sobre condutas, juízos sobre opções.
Mesmo que a voragem do dia-a-dia imponha outras memórias, esforço-me por recordar todos aqueles que sentem uma parte da sua vida invadida pela raiva, pela mágoa, pelo azedume, pela irritação, pelo corte de relações, fruto, tantas e tantas vezes, de coisas poucas, ridículas, não importantes. Que sintam (sintamos) na alma o apelo do perdão que se pede e se dá, do segundo olhar de compreensão que se deita sobre os que nos magoaram ou a quem magoámos.
Por último, uma palavra sobre alguma injustiça a que todos assistimos de quando em vez. Há os que têm muito para comer e banalizam a riqueza das suas refeições, transformando-as em cerimónias desprovidas de qualquer sentido, inundadas de desperdício. Há os que não podem comer, porque as circunstâncias da vida os impedem disso. Gostariam de o fazer e têm a certeza, que lhes advém de uma consciência tão pura quanto possível, que apreciariam um bom alimento, gozando cada pedaço, interiorizando a sua importância para um equilíbrio saudável do corpo e do espírito. A minha lembrança vai, por isso, para aqueles que querendo – e podendo no seu íntimo – estão impedidos de comungar.
Obrigado por ouvirem o que tinha a dizer a mim próprio.
JdB
O perdão é maior e mais sublime acto de verdadeiro amor, que um ser humano jamais poderá demonstrar; não me refiro, obviamente, a um mero pedido de desculpa, nem sequer a um beijo sentido de perdão, mas sim à transformação que se opera nos nossos corações por pura intervenção divina; não se trata de um acto mental, não é consciente, nem opcional. Simplesmente, quando damos conta dele, já lá está. E nunca mais o confundiremos ...
ResponderEliminarMaranathá, Bom Natal.
Perdoem-me as considerações que farei, que deveria guardar no meu intimo e deixar-me se calhar levar pela corrente...
ResponderEliminarChega Dezembro, e eu começo a ficar inquieta, escandalosamente triste, por vezes já em Novembro se insinua. E não é fruto do tempo.
Vou tentando contrariar essa tendência, das mais variadas formas.
E tudo porque não gosto da época de Natal.
(o.k. no fim crucificam-me...)
Acho o mês mais hipócrita do ano, mais falso, mais excessivo, mais paradoxal, mais decadente, mais oco, mais insultuoso,(...), mais triste...
É o mês em que mais pseudo actos de contrição se faz, em que mais apelos lamechas e vazios se encontram , fruto de um momentãneo e passageiro desejo de mudança, de procura efémera e superficial de valores que não se perseguem nem se alimentam durante todo o ano.
Desculpem-me os que adoram o Natal...
Em nome da magia que baila nos olhos dos meus filhos eu esforço-me por deixar-me levar pelos cânticos e luzes das ruas, pela atmosfera natalícia...
O espirito, esse reservo-o para todo o ano.
Para mim, o perdão se não é intencional, mental, consciente, é aleatório e ocasional.
Ou é fruto de reflexões internas e conscientes, de profundas transformações pessoais, divinas, ou é inconstante, incoerente, pontual.
Que o verdadeiro espírito de Amor e Fraternidade, possam viver em mim e em vós todos os dias do ano
a.
obrigada a.. muito obrigada.
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