Por uma razão ou por outra, tenho vindo a falar com algumas pessoas sobre missas. A missa aqui que é diferente da missa ali; o padre que a reza desta ou daquela forma; as homilias, as músicas, os fiéis, o interesse, a vantagem, a importância, a duração, etc., etc., etc.
Expurgo deste post considerações de carácter mais teológico ou doutrinário, para as quais não tenho sabedoria. Mantenho este texto no domínio das coisas simples, do dia-a-dia, daquilo que mexe mais comigo, que me motiva e que, entre outros aspectos, me leva todos os Domingos à mesma Igreja, à mesma hora habitual, há tantos e tantos anos.
Tenho fé - aquela que me diz que a recompensa por acreditarmos no que não vemos será vermos aquilo em que acreditamos; creio na mensagem de Cristo como um conjunto poderoso de ensinamentos para se ser melhor; sinto-me feliz numa Igreja Católica que, como já escrevi, tem imperfeições, incoerências, erros. Mas é a mesma Igreja que ajuda o próximo, está do lado dos fracos, estende a mão aos escorraçados.
Raramente faltei a uma Missa dominical, mas assisti a muitas com a mente noutro lado, preocupado com outras coisas, entusiasmado com outros pensamentos. Confesso que cheguei a escrever artigos e a fazer versos - mentalmente, claro está! Mas, no meio de uma homilia de que ouvia pouca coisa, havia sempre uma frase que me batia na testa, como se me fosse dedicada; do Evangelho, de que fixava metade, uma linha, um pensamento, encaixavam-se na minha vida como se tivessem sido escritos exclusivamente para mim. Nunca me preocupou a qualidade do sermão, porque sei que, na generalidade dos casos de hoje em dia, ninguém fala sempre bem ou sempre mal. Há dias inspirados, outros em que o alinhamento de duas frases é um suplício. E, no limite, bastam-nos as leituras, que dão pistas suficientes para o encaminhamento da nossa vida à luz daquilo em que acreditamos.
Muita gente se enerva com as pessoas que vêem na Igreja, porque lhes conhecem defeitos que sentem ser incompatíveis com uma prática religiosa e de defesa de alguns princípios. Raciocinar nessa base é entender que aquele espaço devia ser reservado para os puros, os perfeitos, os que estão mais próximos da santidade. Cada um que se senta naqueles bancos, normalmente desconfortáveis, tem uma motivação própria. A mim cabe-me a certeza de que não sou melhor do que ninguém, e que entro naquele espaço para ser santo, não porque sou santo.
Acredito no poder da oração como elemento pacificador da minha vida interior. Tenho suficiente história de vida para já não pedir muito, a não ser discernimento para saber o que fazer, e força para o seguir. Mas é ali, naqueles quase 60 minutos semanais, que vou buscar inspiração para o repto da tolerância, do perdão, da minha manutenção no lado luminoso da vida, como já aqui escrevi, também. E, como há incoerência entre aquilo que defendo e aquilo que pratico, volto lá na semana seguinte - distraído, concentrado, comovido, fixando uma frase, um pensamento, uma ideia.
Por mais que seja vencido por outros raciocínios, gosto de pensar que todas essas minudências - o padre, a homilia fraquita, as músicas desafinadas, os fiéis mais isto ou mais aquilo - não são mais do que cães que ladram (com todo o respeito) perante uma caravana que teima em passar e que é maior do que nós: a mensagem de Cristo, a genuína doutrina social da Igreja, o desafio da santidade.
Adeus, até ao meu regresso...
JdB
Aplaudo este seu sentido discurso, identifico-me com as suas meditações. Gosto de constatar que nesta igreja há espaço para todos - é suficientemente universal para "tocar" os mais variados - esta riqueza sensibiliza-me.
ResponderEliminarContinue a escrever com esta alma, que Deus o continue a inspirar.
Beijinhos
JdB,
ResponderEliminarPor vezes estamos em casa de amigos ou nalgum evento cheio de gente, e estamos sós com o nosso interior.
O facto, de algumas vezes estar na Igreja e não "estar" lá, penso que é normal, pois quando está na Missa, está na Casa do seu Maior Amigo, e ELE está sempre a iluminar-lhe o seu interior.
Continue a partilhar a sua Fé, são pessoas como o Senhor que são os verdadeiros Apóstolos.
Obrigado
Gosto da seguinte imagem, que ouvi de um Padre e que adopto como minha, sem tirar nem pôr. A igreja (templo) é como se fosse a casa de um amigo: há-as grandes e pequenas, com mais ou menos luz, bem ou mal decoradas, com cadeiras mais ou menos confortáveis, etc. A Missa é como se fosse o jantar na casa desse amigo: às vezes come-se bem, às vezes nem por isso; às vezes encontramos pessoas que conhecemos, outras vezes não; às vezes há conversas e temas com que nos identificamos enormemente e outras vezes, acaba o jantar e de pouco nos lembramos; Cristo é como se fosse o dono da casa, o meu amigo, aquele a quem vou visitar; há dias em que lhe dou toda a atenção, o elogio, o imito, lhe peço conselhos, lhe faço confidências, outros dias até parece que o esqueci. A nossa relação com Cristo deverá ser isso mesmo, uma História de Amizade ... com altos e baixos, encontros e desencontros, idas e vindas, tal como temos, na vida real, com os nossos verdadeiros amigos. Não acontece na vida real que, quanto mais gostamos de um amigo, mais procuramos a sua companhia ? E não acontece também que, quanto melhor o conhecemos, mais gostamos dele ? E o melhor de tudo é que para jantar com Cristo, não precisamos de convite :-)
ResponderEliminarObrigada JdB pela partilha. Escreveu coisas q já tinha ouvido mil vezes mas q também mil vezes esqueci!
ResponderEliminarMas é realmente com este sentido de Igreja santa e pecadora mas q nos acolhe e onde sempre encontramos Cristo Vivo e Presente que podemos crescer mais e mais para o AMOR