20 março 2009

os impérios interiores





nos anos noventa, o mundo da moderna música popular de origem anglo-saxónica viu nascer um pequeno movimento musical, caracterizado pelo carácter indolente das suas canções: lentas, lânguidas, atmosféricas, como que usando e abusando de uma espécie de efeito 'de suspensão', apoiadas em melodias cristalinas e na arte de criar subtis filigranas de extraordinária beleza.

os 'mazzy star' foram uns dos arautos desta corrente a que alguém chamou 'slow core'. outros preferiram o termo 'sad core'. eu gosto de 'slow sad core', porque serve maravilhosamente uma certa ideia muito própria sobre a beleza de certas coisas 'lentas e tristes' - espécie de virtuosa propagação do que, em contra-ciclo, se afirma propositadamente contra a modernidade mais agitada, mais esvaziadamente vitalista, mais ultra-repentista, mais politicamente correcta.

estes dois videozinhos são, para mim, o 'nec plus ultra' desta banda. 'fade into you' e 'flowers in december' são títulos-programa. e são, também, canções para ouvir em noites de lua cheia, deitados numa cama de rede, sob o céu estrelado. 4 minutos + 4 minutos, mais coisa menos coisa, em que, bem no fundo do fundo de nós, são erguidos impérios que logo logo se desmoronam. mas, enquanto duram, são de uma majestosa beleza, de uma incontornável intensidade, como se tudo o resto, por momentos, deixasse de existir. é esta propriedade 'da suspensão' que torna esta música especial. porque o 'suspension of belief', como nos ensinam os almanaques mais académicos do cinema (e do show biz), são uma espécie de suave e acessível milagre - e desculpem a palavra, eventualmente inexacta.

que gostem como eu um dia gostei - incondicionalmente. que é sempre a melhor maneira de conjugar o verbo gostar..

3 comentários:

  1. Excelente música!
    Obg. por ma dar a conhecer.
    fq

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  2. Fui ao Céu, chateada por ter que voltar - magnífico! JdB, ofereces-me isto nos anos, sff? Obrigada, RF

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  3. Falta-me a "cama de rede, sob o céu estrelado", mas mesmo assim deixei-me embalar. Gostei imenso, sobretudo da primeira música.

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