05 junho 2009

no comboio descendente*

de pés descalços, areia por baixo,
as ondas ao fundo e perto
- como o mundo.

de mãos nuas, mexendo na areia,
as estrelas longe e perto
- no mesmo segundo.

espécie de flash fulminante,
lembrando cada instante
- e assim por diante.

uma tarde a revistar as algibeiras,
por dentro, por fora
- de todas as maneiras.

mas não encontrei palavras literais,
nem as metáforas de ricouer,
nem signos, nem cifras, nem fórmulas
- nem criptografias vivas, nem geografias mortas.

nada servia para nada;
nada me fazia bem,
nada me fazia mal.

será então a ausência.. tudo?
ou será antes a presença.. nada?
tudo baço, tudo difuso,
tudo raso, tudo mossa.
eu (para ti): 'nada posso'.
tu (para mim): 'tudo passa'..


* verso de Fernando Pessoa, título de uma conhecida canção de José Afonso.

gi

4 comentários:

  1. Não basta reproduzir a escrita dos outros. O que é interessante, é perceber a razão das suas escolhas, dos seus pensamentos e devaneios. Porque escolheu isto? Que pensa sobre isto? Em que se identifica com isto? É sua dimensão pessoal e transmissível que nos pode enriquecer. Pessoa todos podemos ler, a si, só se nos deixar. Fico à espera.

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  2. olá, caro(a) anónimo(a).
    muito obrigado pelo seu comentário, antes de mais.
    vai, contudo, desculpar-me.. mas equivocou-se. 'a escrita dos outros' que refere é afinal um poema meu - apenas o título, como devidamente assinalado, é de fernando pessoa (que me perdoará decerto o intensivo uso de minúsculas..).
    quanto ao seu pedido de contextualização do poema, do seu significado, peço desculpa, mas não posso concordar com as suas palavras. não é de todo assim. a poesia nem sempre carece de exegese; as palavras nem sempre são passíveis de decomposição, em busca de um significado. ele está lá, para quem quiser procurar, para quem 'investir'.. mas, claro, é apenas e só a minha opinião.
    em todo o caso, talvez alguns dos escritos no meu blog pessoal, que convido a visitar, possam eventualmente fornecer as pistas que procura:

    http://floresdeinverno.blogspot.com

    termino como comecei: muito obrigado por me ler; muito obrigado pelo seu comentário.

    flores,

    gi.

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  3. Obrigado pelas flores, pela não explicação e correcção. Confesso, e com algum incómodo, que não li o seu escrito. Fiquei-me pelo asterisco (icon perigoso, em situações como esta). Obediente, cumprindo uma ordem, fui verificar para onde me remetia tal instrução - Fernando Pessoa, que seca ! E que me perdoem os seus milhares de admiradores – que irritação. Enganei-me, precipitei-me, mas provoquei alguma movimentação. Já não foi mau. Passarei a lê-lo ainda melhor.

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  4. caro(a) amigo(a):
    nada a desculpar, nada para ser desculpado - não se apoquente.
    é como diz: valeu pela 'movimentação', claro que sim! ;-).
    e assim, com um piscar de olho moderno, me despeço com amizade, até uma próxima oportunidade.

    flores,
    gi.

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