na calle del principe, por entre tragos de ocasião,
entreolhando as chicas que serpenteiam,
esse rio esplendoroso que as cidades oferecem
em noites de folia e fim-de-semana à porta,
relembras as sublimes memórias de ruy belo,
polaroids que te estalam em brasa,
castanhas interiores devorando a chama
que lavra no teu peito - e por ela sendo devoradas.
fogo contra fogo, olho por olho, dente por dente.
na plaza mayor, gelada e fria geografia urbana,
contrarias o termómetro por um momento,
agarrando a mão da menina de nove anos,
de cabelos e sonhos ainda ao vento,
palacio de los reyes mas em mais bonito,
porque transbordantemente humano,
e esqueces o rosto que te inunda os dias
e o rasto desse rosto que te embriaga
uma e outra vez, uma e outra noite,
uma e toda (e outra que fora) a tua vida.
segues por entre ruas e ruelas, descobrindo
os mundos mil que sempre os barrios de las letras
para ti encerram. como nesse ateneo, pó e cinza,
banhado a dignidade que cheira à légua a coisas
caídas em desuso - amor às artes, amor ao mundo,
amor às causas, amor às coisas, amor a tudo.
páras, para recuperar o fôlego que sabes não ter,
e olhas para a tabuleta que nomeia a pequeña plaza
de santa ana - teu local de encontro e passagem,
feira e igreja, santuário madrileño e romaria.
até aqui - pensas - nesta espécie de casa,
se porventura um país novo em armas tomasses,
até aqui - sentes - nesta espécie de pátria emprestada,
onde o futuro pode ainda estar por acontecer,
até aqui - choras agora - nesta espécie de cidade nova, renovada,
paira a sombra e o salero (e o amor e a fúria e a raiva)
de saber para sempre teu esse excelso e único
- gravado na pele e na memória cerrada e gelada -
nome de santa, nome de ladra, nome da única
que nomeaste um dia como mulher.
gi.
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