Mineiros chilenos. A saga continua mas, estou certo, daqui a meia dúzia de semanas ninguém falará deles, esfumando-se o tema na voragem das coisas mais mediáticas. Parece que continuam bem e, segundo li, já há alguma divisão de tarefas, o que permite uma ocupação, tão saudável quanto possível, do tempo. Demorará até que cheguem à superfície, se bem que se fale numa possível antecipação. Até lá é a ausência de sol, o relógio que marcha com uma lentidão de desespero, e as vídeo-conferências com familiares, disciplinados para um optimismo que se pretende contagiante.
Livros. Mais um excerto do Diário dos Vencidos – o 5 de Outubro visto pelos monárquicos em 1910 (Joaquim Leitão, Ed. Aletheia):
(...) Nessa ocasião, um sargento da Estrela falava pelo telefone ao Coronel Malaquias de Lemos, dizendo que lhe haviam comunicado que estava proclamada a República, e que se rendesse, mas que ele não queria render-se porque ainda podia combater.
- E o coronel Malaquias que respondeu?
- Respondeu o seguinte: “Entreguem-se também, que eu já me entreguei”. “Mas nós ainda podemos resistir!...”, dizia o sargento. “Entregue-se, já lhe disse!”, insistiu o coronel Malaquias. E voltando-se para quem estava: “Ora vejam a que estado de indisciplina chegou o exército! Um sargento a discutir comigo a oportunidade de se render. Que me dizem a este sargento, hã? Que me dizem ao sargento!?...”
Beatices (I). Casamento, Sábado, em Vila Viçosa. É de lamentar a canícula calipolense (37ºC às 14.00h, deglutia eu umas migas antes de me atirar à gravata...) mas tudo o resto esteve no domínio do perfeito. Faço parte daquela gente que, num casamento, distingue o verdadeiramente essencial – a cerimónia religiosa – do que é genuinamente importante – o copo-de-água. Fixei os contornos gerais da homilia – muito inspirada – e o fim da 2ª leitura, da famosa carta aos Coríntios: (a caridade) tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. A caridade não acaba nunca. Sentado na Igreja, olhei à volta e pensei que é nesta fé que eu quero continuar a viver.
Beatices (II). Missa, Domingo, no Estoril. No fim da homilia falam dois seminaristas, prestes a entrar no 2º ano, e dois rapazes que entrariam 2ªfeira para frequentar o 1º ano. Conheço um de cada grupo, amigos dos meus filhos. Em todos se nota a confiança e a exaltação. No fundo, não é isso, também, o que define a nossa espiritualidade? De facto, Deus não escolhe os capacitados, dá forças aos escolhidos. A fé pode ser contagiante?
Beatices (III). Mão próxima envia-me, 2ªfeira, o link para uma entrevista da LQ, minha amiga de juventude, que agora tem um lugar de responsabilidade nas Irmãs da Caridade. 25 minutos, quase, a falar do amor de Cristo, de serviço, dos mais pobres, da fome espiritual e da fome física. Retenho, no tom de voz que me é familiar, o sentido geral da conversa. Fixo uma das últimas frases, talvez: tenho a certeza de que nunca seria feliz em mais sítio nenhum”. Fé é isto.
Futebol. Segundo desaire no espaço de menos de uma semana, desta vez com a Noruega, com quem nunca tínhamos perdido. Vale-nos o hóquei em patins e a alegria de termos cilindrado, por 14-1, os nossos aliados ingleses. Somos melhores no stick - o que me faz lembrar que poderíamos oferecer um par de patins ao Madaíl e ao Queiroz.
Processo Casa Pia. Há muito tempo que embirro com o Carlos Cruz (antes, ainda, do processo) e alimento um convencimento (injusto, talvez, porque sem bases) da sua culpa. Mas, numa onda que por vezes me invade de fixar o acessório, dei por mim a olhar para o advogado Sá Fernandes, por quem não nutro simpatia alguma. E imaginei esta cena – hipotética, mas possível: a equipa de defesa de Carlos Cruz sabe da sua culpabilidade mas este, por deficiências processuais, acaba não condenado (falta de provas, erros, prescrição). Sá Fernandes tira o panamá (ou era um palhinha?), elogia a justiça que já não vive no mundo das trevas e abraça o apresentador, gritando, entre duas fortes palmadas nas costas transpiradas, porreiro, pá! Nesse dia, no remanso da sua vida familiar, beija a Sofia com um sorriso (desconheço se tem filhos da idade das vítimas) e pergunta-lhe: não queres abrir uma boa garrafa de vinho? Ganhámos o processo casa pia. Eu, agoniado e burguês na minha vida confortável, socorro-me de uma água das pedras e do sossego de não ser advogado, de ter tirado, apenas, um curso menor de engenharia.
Muito gosto eu desta misturada de temas! Hoje particularmente inspirado. Faço uma especial referência ao Beatices (I) e (III). O I porque é óbvio, não dá para comentar o que é óbvio e perfeito, o III porque conheci a LQ em Calcutá. Se não me engano... obrigada, as ever. pcp
ResponderEliminarEsta dos patins para Madail e Queiroz è boa. Sabe como eu gosto de 2ºs. sentidos´
ResponderEliminarSdB(I)
Excelente, João!
ResponderEliminarApreciei sobretudo os patins e as observações "in fine" sobre o Processo Casa Pia.
Um abraço,
fq