31 maio 2011

Duas últimas (ou crónica de um peregrino urbano, parte III)

À hora a que me lerem - queridos Amigos, companheiros deste modesto mas tocante espaço - estarei em Itália. Gostava de dizer que estou a banhos, porque a expressão encanta-me, mas sou demasiado cívico para me jogar na Fontana di Trevi com umas bermudas elegantes, um polo da margem sul, uns óculos de ver ao perto e um corpo que já conheceu melhores dias. Há a prudência e o pudor - e eu tenho ambos.

Hoje - estimados Visitantes, erráticos ou não, deste albergue que também é vosso - ofereço-vos duas-pérolas-duas, como se fosse um cartaz tauromáquico a anunciar hastados e matadores. Pareceu-me boa ideia brindar-vos, não com uma faena audaz, mas com uma singeleza popular: Pavarotti, o tenor que maravilhou o mundo - e não só - entoa duas músicas italianas que podereis (apeteceu-me esta segunda pessoa do plural, tradição de um clericalismo démodé) escutar com os ouvidos e com os olhos, mas também vice-versa, se assim me faço entender. Isto, a bem dizer, sou eu a dizer onde estou e a levantar um peti rien d'envie (este francesismo é oferecido ao saudoso ATM) nos meus poucos leitores.

No dia em que esta crónica sai talvez esteja em Roma, escorropichando uma imperial na Piazza Navona, imaginando histórias sobre as belezas autóctones, dizendo grazie com a presunção de quem quer ser um deles, e não um qualquer turista que come esparguete mau com os olhos revolvidos de gastronomia ignorante; talvez esteja em Florença, debruçado sobre o Arno, afagando as pedras da Ponte Vecchio e imaginando-me um nobre renascentista, debruçando um olhar de patrono generoso sobre um pintor em início de carreira.

A conversa convosco é muito agradável, mas, se não se importam, vou debicar um spaghetti alla putanesca e volto já. No fundo é isto.

JdB


http://www.youtube.com/watch?v=AVpl983ytNg&feature=player_embedded


http://www.youtube.com/watch?v=fVhKPHFzPMQ&feature=player_embedded

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