Alguns dos que me conhecem perguntar-se-ão como me cabe tanta nostalgia na alma. Outros indagarão da normalidade de tanta nostalgia na alma. Para todos tenho uma resposta simples, infantil e assaz vulnerável a contra-argumentação demolidora: olhem para mim e tentem descortinar tristezas profundas, melancolias tendentes ao suicídio, imobilidades perniciosas ao bom fluido dos humores. Não vislumbram? Certo, significa que não sou uma aberração da natureza.
Sou assim, como outros são de temperamento contente, na alegria esfuziante de um girassol que floresce, no rasgar de um sorriso com a proximidade da primavera, no encanto da novidade ou da descoberta. Não sei quando se terá revelado esta tendência em mim, se tem vindo a agravar-se ao ponto de me imaginar, dentro de alguns anos, deitado num divã enquanto um psiquiatra me explica, diligente e vagamente preocupado, as portas que se fecharam ou abriram extemporaneamente na minha infância.
A semana passada, no decurso do desaparecimento de alguém que me era querido, escrevi nostalgicamente, lembrando os quarenta anos de convívio próximo. Ao longo dos dois dias seguintes fui encontrando gente que fez parte da minha infância mais recuada. A satisfação que fui tendo em vê-los e, no sábado, ter almoçado com muitos, está para além de muitas compreensões - talvez mesmo da minha. Mas eu sou assim, e confesso não ver motivos para pedir desculpa...
A nostalgia não me mata o presente nem me elimina o futuro. São apenas recordações - algumas muito distantes no tempo - que me transportam para tempos felizes. Outros tempos felizes, porque apesar das dificuldades que fui enfrentando a vida foi generosa, oferecendo-me gente, projectos e olhares que me enriqueceram e fizeram de mim melhor pessoa. Com (des)honrosas excepções, tenho nostalgia de inúmeras épocas da minha vida, porque em todas tive momentos de irrepetível felicidade.
Escrevi, como disse acima, sobre os quarenta anos que celebrei interiormente este mês, e que me vieram à memória pelos piores motivos. Deixo-vos, resistentes leitores ao discurso de um permanente velho, com duas músicas que terão feito algum furor nesse ano de 1971. O título da primeira música é particularmente sugestivo. De facto, houve sempre alguém, quiçá na forma metafórica de uma borboleta esvoaçante, que me coloriu o mundo quando ele parecia mais negro.
JdB
Que saudades desse tempo de ingenuidade e ignorância, em que nos fixávamos nas borboletas.
ResponderEliminarObrigada JdB
Ah bitter-sweet memories! Fantastic choice of songs!!
ResponderEliminarHappy 40th!!!
PO